Por Hermógenes Saviane Filho
Neste fim de semana tive a feliz coincidência de relembrar dois mundos em que cresci e me formaram. O da São Paulo urbana, com a transição entre a cidade que deixava de ser uma província e se transformava na maior do Brasil e uma das maiores do mundo, com suas contradições e problemas. E o interior, com seu mundo rural, que com a cultura do café levou o estado a se transformar no principal do país e o paulista a desenvolver uma certa soberba.
Estas imagens, que as trago em
minha memória afetiva, tinham como fio condutor o meu pai e as reuniões familiares nas festas de aniversários minha e de minha irmã da primeira metade dos anos 1970, e se deu através da música.
No sábado, fui ao show do Paulo Miklos, no Sesc Pinheiros, onde ele levou ao palco as músicas de Adoniran Barbosa, a alma do paulistano, com suas letras simples e singelas, mas que contaram a história da cidade dos decênios 50 a 70. Adoniran conseguiu compor letras alegres, como “Saudosa Maloca”, a melancólicas, como “Iracema”. Foi, assim como Cartola e outros, injustiçado em boa parte de sua vida. Miklos conseguiu contar esta história com maestria, assim como o fez, como ator, no filme “Saudosa Maloca”, que originou o espetáculo. E o espetáculo, já perto das 23h, não poderia ser encerrado na fosse com “Trem das Onze”.
E no domingo, no Sesc 14 Bis, no antigo Teatro Raul Cortês, Renato Teixeira me fez chorar com músicas como “Um Violeiro Toca” e a emblemática “Romaria”. Algo muito vivo dentro de mim ao lembrar das histórias de agruras e superação da minha família paterna e materna, contadas pelo meu pai e pela minha mãe. Cresci, como todas as pessoas, marcado por esta oralidade familiar e que nos formam como pessoa.
Agradeço a estes músicos que me fizeram avivar estes momentos tão presentes em minha vida e em boa parte de paulistanos e paulistas.
Um bom começo de semana!😘🌻❤️
Hermógenes Saviane Filho é professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul