Por Sonia Castro Lopes
Para endossar a obsessão do Presidente em duvidar das urnas eletrônicas, as Forças Armadas brasileiras foram expostas ao descrédito e à vergonha. Pagaram não um mico, mas um verdadeiro orangotango.
Se a cortina de fumaça na crise da pandemia foi a recomendação do uso da cloroquina, agora, diante dos resultados das pesquisas que colocam o ex-presidente Lula na dianteira, é preciso ocultar a crise econômica, a inflação galopante, o desemprego, a fome e a miséria que assola o país. Tudo o que vai servir de munição à oposição para destronar o capitão e sua quadrilha deve ser omitido em favor da discussão que gira em torno das urnas eletrônicas.
Foi burlesca a atitude do Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, ao exigir a publicação de um documento pelo TSE que respondesse aos questionamentos feitos pelos representantes dos militares na Comissão de Transparência das Eleições (TCE). O presidente do TSE, Ministro Edson Fachin, atendendo ao pedido, publicou as respostas dadas às “contribuições” sugeridas pela categoria para o “aperfeiçoamento” das eleições. O tiro saiu pela culatra, pois o documento revelou a total ignorância dos milicos sobre a dinâmica de um sistema eleitoral reconhecidamente competente.
O ministro Luiz Roberto Barroso, quando presidente do TSE, querendo ser mais real que o rei, deu espaço para essa tropa compor a CTE, criada por meio da Portaria n. 578/2021. A resposta dada pelo TSE aos puxa-sacos que endossam a campanha de desinformação bolsonarista expôs as FFAAs ao ridículo. A milicada de Bolsonaro podia dormir sem essa…
É preciso apagar o “fogo amigo”
Já se instalou no país uma campanha para sabotar a vitória do ex-presidente Lula no primeiro turno. Não estou querendo dizer com isso que essa vitória tenha reais chances de acontecer. Segundo os cálculos estatísticos, hoje, teríamos algo em torno de 45% de possibilidade de Lula faturar as eleições já no primeiro turno.
Mas o que me irrita é a postura da imprensa hegemônica que endossa a orientação de certos partidos em levar essa disputa para a segunda fase. Utilizando o argumento de “liberdade de escolha”, pregam sistematicamente o “voto desejável” no primeiro turno postergando para a etapa final a utilização do voto útil. Do MDB traíra e do PSDB golpista não se poderia esperar nada melhor, mas me espanta a atitude de certos partidos de esquerda que apresentam candidatos com desempenho pífio embarcarem nessa onda.
Já vi representantes do PSOL, do PSTU e de outros partidos de menor envergadura torcerem a cara por causa do vice Alckmin ou pelo fato de as declarações de Lula não corresponderem à verdadeira agenda da esquerda. As recentes declarações da youtuber Rita von Hunty a esse respeito são um desserviço, contribuindo para alimentar a divisão das alas progressistas.
A terceira via, para desespero dos nem… nem…, implodiu de vez. Lula se mantém na dianteira, mas há um crescimento sensível da candidatura que representa a extrema direita, beneficiada pela defenestração do ex-juiz Moro do embate eleitoral. Como representantes mais expressivos da centro-direita só restaram Simone Tebet e João Dória, cada um pior que o outro, disputando a tapa quem será o cabeça de uma chapa que poderia alterar a “maldita polarização.” Sem chances…
O PDT de Ciro Gomes já começou a se desentender. O ideal seria que cristianizassem os votos em favor de Lula, aumentando consideravelmente as chances de uma vitória antecipada. Isso, de fato, seria a salvação da lavoura, mas de um cara como Ciro não se podem esperar atitudes generosas, vide 2018.
As ‘instituições democráticas’ e os políticos de centro-direita (claro que não estou mencionando o Centrão) pagaram pra ver e deixaram o cramulhão se criar. Há poucos meses consideravam-no derrotado politicamente e o morto-vivo ressurge agora preocupando as forças progressistas.
Não estamos mais em condições de brincar de “fogo amigo”. O tempo corre e, se não houver união de todos aqueles que querem ver o diabo pelas costas, podemos nos deparar com um segundo turno cheio de surpresas. Bom mesmo seria não arriscar.
Cala a boca já morreu
Inicialmente me preocuparam os improvisos de Lula. Achei que dariam boa munição para a oposição bater no ex-presidente e enfraquecer sua campanha. Mas com exceção da gafe dos policiais, da qual Lula procurou se retratar (Lula disse que B não gosta de gente, mas de policiais), algumas, a meu ver, se justificam. Digo isso porque tudo o que a mídia corporativa quer é ver um Lulinha amestrado, paz e amor, obediente à agenda neoliberal e privatista. Pinçam de suas falas trechos polêmicos e os repetem à exaustão. Afinal, a quem eles querem atingir? Estão, de novo, fazendo a campanha pro capetão, como fizeram há quatro anos? É o que parece…
Vejam a questão do aborto. Lula deixou claro que pessoalmente era contra, mas caberia ao chefe de Estado assumir a questão, encarando-a como uma política de saúde pública. Perfeito! Só os moralistas de plantão, guiados pela cabeça doente dos asseclas evangélicos do presidente e da ex-ministra Damares, é que pensam o contrário. Hipocrisia pura!
Em relação à Guerra da Ucrânia criou-se outra celeuma, esta de maiores proporções. Em nenhum momento Lula declarou ser favorável a invasão deste país pela Rússia. Pelo contrário, condenou-a, mas demonstrou conhecimento de geopolítica e relações internacionais ao arrolar como co-responsáveis pelo conflito a OTAN e o governo estadunidense. Além disso, problematizou o que a grande mídia tenta enaltecer: a heroicização do presidente Volodymyr Zelenski.
Mas para os liberaizinhos de plantão que enchem nosso vídeo com comentários rasos e enviesados, a fala de Lula foi um prato cheio para que pudessem destilar seu veneno porque o que desejam, do fundo do coração, é que aparecesse um ‘liberal limpinho’ para afastar de vez o PT do poder, como já o fizeram outras vezes. Como disse uma jornalista da GloboNews, ao constatar as dificuldades enfrentadas pela terceira via, “a esperança é a última que morre…”