O Velho Ricardo

Por Sergio Papi

 

Verdade que era irascível e autoritário, ninguém é perfeito. Se eu contar todos os truques de campanha que aprendi com o velho feiticeiro sobre “propaganda” – ele detestava os termos “publicidade” ou “marketing”, “propaganda” era um termo mais leninista. Forjado, espírito de aço, nas lutas estudantis e sindicais, fora prisão e exílios, o velho Ricardo Zarattini foi dos primeiros a pensar os panfletos de apoio, a foto do candidato ao lado do militante, personalizando e tornando um líder de bairro, expoente. Foi com o velho que eu, nas primeiras versões do PhotoShop, recortei fotos de figuras e as coloquei lado a lado, sobre fundo azul, vermelho ou laranja. O velho gostava de conversar com o porteiro do prédio antigo da Líbero, o Zé, nascido e criado nos resquícios de Canudos, tinha que ouvir a voz do povo. Inventou uma candidatura de um cantor popular e a peça, dizia ele, tinha que ter o aspecto de impresso das Casas Bahia, colorido e cheio de balão de “ofertas”. Eleger não elegeu, mas a ideia era boa. Também possuía algo de déspota escravocrata; o Professor dizia que ele encarnava um ancestral, general romano. O velho, de vez em quando, me aparece na forma de espírito psicodigitalizado.
 

Sergio Papi e Ricardo Zarattini em escritório na Rua Líbero Badaró. 2002.



* Começou a militância política aos 16 anos, estudante secundarista. Presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP). Participou da campanha popular “O petróleo é nosso” que culminou na fundação da Petrobras. Formou-se em Engenharia, POLI, 1962. Trabalhou na COSIPA em Santos, participou junto ao Sindicato dos Metalúrgicos da cidade de uma série de greves e paralisações, garantiu o pagamento do décimo terceiro para os funcionários. No Nordeste, engenheiro e um dos líderes do movimento canavieiro. 1968, militante do PCBR, oposição à Ditadura. Três dias após o AI-5, preso e torturado em Pernambuco. Estava entre os presos políticos trocados pelo embaixador Elbrick. Com a abertura, direitos políticos retomados. A convite de Brizola, se filiou ao PDT. 1993, assessoria técnica da liderança do PDT na Câmara. Ajudou a elaborar as campanhas para presidência de Lula nos anos de 1994 e 1998. 2002, concorreu a uma vaga de Deputado federal pelo PT conquistando a suplência, 55.258 votos. 2003, assessor de José Dirceu. 2004, toma posse como parlamentar suplente. 2005, biografado: “Zarattini, a paixão revolucionária”, (fiz a capa) por José Luiz del Roio, prefácio por Franklin Martins. 2010, concorreu à vaga de primeiro suplente para o Senado na chapa capitaneada por Netinho de Paula (PCdoB). A chapa angariou 7.773.327 votos, ocupando o terceiro lugar, superada por Aloysio Nunes (PSDB) e Marta Suplicy (PT).

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