Por Simão Zygband
Enfim, chegamos às vésperas das eleições mais importantes pós ditadura militar. Não gostaria de me alongar muito nos motivos para eleger Lula presidente, de preferência ainda no primeiro turno, já que muito já se escreveu sobre o tema. Falta agora, digitar novamente 13 na urna, não esquecendo de proporcionar ao novo mandatário governadores, senadores, deputados estaduais que permitam que ele possa implementar as mudanças que todo o povo brasileiro espera com ansiedade.
Prefiro me utilizar de uma música de Nelson Cavaquinho, escrita há quase 50 anos, que bem reflete, na minha opinião, o anseio de todo o povo brasileiro, para exprimir o que acho sobre a importância de eleger Lula amanhã, colocando fim a um período de trevas, incorporado pelo atual ocupante da cadeira presidencial. Tenho a impressão (gostaria que fosse a certeza) de que o pesadelo se encerra neste histórico dia 2.
Mas veja que primor é o samba de Nelson Cavaquinho, imortalizado na voz de Clara Nunes e de Elza Soares.:
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer”
“És acusado de teres o desplante de ser líder num país desnaturado onde quem levanta a fronte é triturado.
És acusado de haveres perdido a paciência de esperar pelo futuro que não chega nunca.
És acusado de usares sapatos 42, de couro, quando o normal é sandália havaiana.
És acusado de romperes as cadeias invisíveis que amarram teus braços peludos e tuas mãos penadas.
És acusado de atraíres os operários com tua voz, teu berro, teu silêncio, teu olhar, tua dor, tua ânsia, teu mistério, e saberes contar, sorrindo, tristes histórias recolhidas em barracos e cômodos-e-cozinhas.
És acusado de estares em pé, quando devias estar de bruços, de borco, exangue e vencido.
És acusado de não seres o que queriam que tu fosses.
Meu caro operário sentado no banco dos réus, por favor, recebe este recado:
Se existir mesmo essa senhora difusa e vaga a que chamam Justiça, confia nela.
Não creio que essa matrona seja cega”.
(*) Publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo, no dia 15/09/1980.