Sonia Castro Lopes
“Lula em plena campanha para voltar ao poder. Seria bom se os erros do passado tivessem lhe ensinado algo. Pelo que se ouviu ontem, não aprendeu nada.”
Editorial O Globo, 11/3/21
“A decisão do ministro do STF Edson Fachin que beneficiou o Sr. Lula da Silva não entrou no mérito das condenações e, portanto, não considerou o chefão petista inocente de nada.”
Editorial do Estadão, 9/3/2021
“Maioria acha Lula culpado; candidatura divide eleitor”
Primeira página Folha de SP, 22/3/21
Já imaginaram as manchetes e editoriais dos grandes jornais amanhã com a declaração de suspeição do ex-juiz Moro pela segunda turma do Supremo Tribunal Federal? Com certeza, reafirmarão as narrativas sobre a corrupção na Petrobrás e o desastre que foi o governo Dilma. Utilizarão de toda a retórica e de todas as figuras de linguagem possíveis para informar aos leitores que Lula não foi inocentado e por isso ainda detém o título de chefe de quadrilha, criminoso, enfim, culpado pela situação em que o país hoje se encontra. Lembrarão que na opinião de alguns juristas a decisão precisa ser confirmada em plenário, que os processos serão enviados ao Tribunal Federal do Distrito Federal e a decisão final pode não ser favorável ao ex-presidente. Enfim, muitas pragas serão rogadas.
Também o presidente da república está apavorado com o retorno de Luis Inácio à cena política. Já usou e defendeu o uso de máscaras. Já mandou o 01 incrementar uma campanha em favor da vacina, ainda que, apreciador da estética fascista, tenha colocado uma seringa em forma de metralhadora nas mãos do Zé Gotinha. Trocou o ministro da saúde de caserna por um médico, embora já se saiba que a política de saúde continuará sob as ordens do capitão.
Mas Lula não representa perigo apenas para o presidente e seu exército de negacionistas. As classes médias conservadoras e alguns setores evangélicos se assustam por acreditar piamente na defesa da ‘pauta de costumes’ apregoada pelo governo. O empresariado também anda escabreado, pois há segmentos que ainda acreditam na retomada em V anunciada por Guedes e apostam na escalada de privatizações prometidas no calor da campanha eleitoral.
O choro é livre e quem continuará a se lamentar nos próximos dias é a grande imprensa. São eles os ‘formadores de opinião’ que têm medo de Lula pelas condenações anuladas, por ter-se tornado elegível, por seu protagonismo no jogo político, pela possibilidade de vir a se tornar candidato e até mesmo ser de novo eleito presidente da república. Com a desmoralização da Lava-Jato e a decisão do STF nessa terça feira (23), a grande imprensa vai chorar muito.
Na verdade, o medo maior dessa gente é que Lula consiga atrair para a órbita do PT não apenas os partidos de centro-esquerda, mas também os do centro conseguindo formar uma verdadeira ‘frente ampla’ sob sua liderança para derrotar o inimigo maior. Diante dessa perspectiva, voltam a insistir na idéia de que o antipetismo ainda é muito forte e que existe um ‘perigo’ real de se reconfigurar a polarização que acabou por eleger Bolsonaro em 2018. Se Lula vai ou não se candidatar, isso agora é secundário. O que mais importa é vê-lo disposto a lutar pela reconstrução da democracia, tão aviltada pelos arroubos autoritários da criatura que colocaram no Planalto.
Diante das decisões tomadas pela segunda turma do STF, grande parte dos eleitores arrependidos – incluindo-se aí os que votaram nulo por ‘falta de opção’ – talvez possa refletir e reconhecer quem foram/são os verdadeiros inimigos da democracia: Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Organizações Globo, os editorialistas da Folha e do Estadão, ou seja, todos aqueles que com suas artimanhas e retóricas ajudaram a transformar o Brasil num país que nos envergonha e que se tornou um pária no cenário internacional.
A dezoito meses das próximas eleições é preciso ampliar o debate com os partidos e líderes progressistas, com o empresariado e por que não, com algumas frentes mais conservadoras. É preciso deixar o presidente falando sozinho com seu núcleo duro. Sim, porque chegará um momento em que até mesmo os milicos deixarão de bater continência pro capitão. Estou muito otimista? Talvez, mas hoje eu me permito, hoje é dia de festa.
Se há cinco anos Dallagnol gabava-se com seus cúmplices “Aha Uhu, o Fachin é nosso,” hoje somos nós a festejar “Aha Uhu, a Carmen Lúcia é nossa!”
Crédito da Foto: Ricardo Stuckert