Por Beatriz Herkenhoff
Confesso que nunca me identifiquei com os filmes de #WoodyAllen até que passei a gostar do seu estilo a partir dos seguintes filmes: Meia noite em Paris (2011); Para Roma com amor (2012); Jasmine (2013) e Café Society (2016).
Em Café Society, com um humor fino e mordaz, Woody Allen nos convida a penetrar no glamour Hollywoodiano. Aborda as contradições da sociedade que gira e se mantém em torno de festas luxuosas, de estratégias para manutenção do status quo, da bajulação dos poderosos, de fofocas superficiais e frívolas, e de casamentos aparentemente bem sucedidos, mas, que carregam em seu cerne o fracasso, a insatisfação, a traição, a mentira, a solidão e a frustração.
Nesse contexto, satiriza temas como: a máfia. E traz o seu olhar crítico para o interior de uma família judia com seus dilemas, crenças, diferenças, diversidades no jeito de ser. Problematiza o que há por detrás da magia de Hollywood nos anos 1930-40; o que se esconde nas luzes deslumbrantes e que atraíram tantos jovens em seus sonhos de ingresso no mundo do cinema.
Mostra a força do amor e da desilusão que o acompanha. Evidencia as escolhas que fazemos, nem sempre as mais acertadas.
Saí do filme me questionando: quando concluímos que fizemos escolhas equivocadas, temos a coragem de voltar atrás e romper com a tradição? Temos ousadia para romper com a infelicidade interior revestida e disfarçada de felicidade? Aqui o diretor trabalha a dor da escolha e suas consequências.
Jovens sonhadores, apaixonados, críticos em relação ao funcionamento da sociedade e às falsas relações que sustentam uma aparente felicidade serão capazes de romper com esse modelo? Ou irão sucumbir e submeter-se?
Como fica o amor dividido entre o dever e o prazer? Entre a insegurança e a certeza do futuro?
Acredito que muitos já viveram a experiência de uma paixão que marca para sempre. As lembranças são muitas, geram sonhos, esperanças, mas, também frustrações. São essas vivências que tornam as pessoas mais fortes. E o filme mostra essa realidade a partir do protagonista.
O filme é melancólico? Se sim, uma melancolia romântica, que fortalece, como eu disse acima. Considero que o diretor é coerente em sua linha de raciocínio.
Para finalizar destacaria a fotografia de #VictorioEstoraro (vencedor de três Oscar). Faz toda diferença na história.
Beatriz Herkenhoff é doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da Universidade Federal do Espírito Santo. Cinéfila.