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O que Bolsonaro tem a ver com a barbárie na Amazônia

Polícia Federal acha fragmentos de corpos de jornalista britânico e de indigenista brasileiro

Compartilhado do Quarentena News

Por Jorge Antonio Barros

A Polícia Federal localizou fragmentos dos corpos do jornalista britânico Dom Philips, colaborador do jornal “The Guardian” e do indigenista Bruno Araújo Pereira, na localidade onde foram vistos pela última vez, na região do Vale do Javari, no Amazonas. A informação foi dada pela TV Bandeirantes. Um dos suspeitos preso na terça-feira. Oseney da Costa de Oliveira, confessou o crime. Philips e Pereira foram mortos a tiros. Eles tiveram os corpos esquartejados e incinerados. Outro acusado é o irmão de Oseney, Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, que havia sido preso antes, mas negara o crime. Os assassinos estariam envolvidos com a pesca ilegal na região amazônica, que era alvo de investigações de Philips e Pereira. O indigenista já havia recebido ameaças dos mesmos grupos aos quais pertencem os homens acusados de matá-los. Philips e Pereira faziam o que o governo federal não faz porque não quer: fiscalizar as atividades predatórias dos povos da floresta, na Amazônia brasileira. Ambos desapareceram no dia 5 de junho, em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente.
O caso já está repercutindo em toda imprensa estrangeira e nas redes sociais e certamente é motivo de VERGONHA para o Brasil, mas sobretudo para o governo brasileiro.

Todas as pontas dessa barbárie se conectam com o abandono a que foi relegada a região amazônica no governo Bolsonaro. Para completar a responsabilidade do presidente nesse episódio, a morte de um jornalista estrangeiro dá um recado claro para todos os jornalistas que atuam na região. A decisão de assassinar um jornalista passa pela forma como o governo Bolsonaro lida com a imprensa, atacando-a e tentando subjugá-la por apresentar a narrativa de que os jornalistas perseguem seu governo. Os jornalistas sérios fazem apenas seu trabalho, visando o bem comum. A tragédia com o jornalista acontece 20 anos depois que o repórter Tim Lopes, da TV Globo, também foi alvo de violência por quadrilha no Rio. Ele foi julgado, condenado, torturado e teve o corpo incinerado num “micro-ondas” do tráfico de drogas, na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha.

A Superintendência da Polícia Federal no Amazonas deu coletiva a partir das 19h30m desta quarta-feira para informar que foi concluído o caso envolvendo as execuções do jornalista e do indigenista. Ainda não tivemos acesso à informação oficial da Polícia Federal, mas é possível concluir que nenhuma investigação sobre as mortes de Dom Philips e Bruno Pereira estará concluída se as autoridades não chegarem aos chefes das máfias que atuam hoje na região Amazônica.

Ontem, o delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva – que foi afastado da Superintendência da PF no Amazonas depois que fez uma das maiores apreensões de madeira, com o envolvimento do então ministro do Meio Ambiente, Salles – afirmou que há parlamentares envolvidos com a Máfia Amazônica. Deu nome por nome. E anunciou hoje que está sendo processado pela deputada federal Carla Zambelli, bolsonarista e uma das acusadas por Saraiva.

Em apenas duas décadas, tomar conhecimento de que mais um jornalista foi barbaramente assassinado no Brasil, dessa vez um estrangeiro, é algo que dói muito, sobretudo para nós jornalistas, que amamos o jornalismo investigativo e acreditamos na força transformadora do jornalismo. Quando um jornalista é morto acende o alerta vermelho de que toda uma sociedade pode estar em perigo. Quando dois ativistas ambientais são assassinados o alerta se redobra. A sociedade deve refletir sobre a forma de dar uma resposta a quem interessa calar aqueles que denunciam toda sorte de violência, no país.

ACOMPANHE A CRONOLOGIA DO CASO NO THE GUARDIAN, JORNAL BRITÂNICO
https://www.theguardian.com/world/dom-phillips-and-bruno-pereira

 

Jorge Antonio Barros é jornalista e editor-chefe do Quarentena News

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