O que a barbárie da Vila Belmiro revela sobre a desgraça brasileira?

Era apenas um jogo de futebol, entre duas grandes equipes brasileiras. De um lado, o meu Corinthians. Do outro, o Santos, clube de devoção de tantas amigas e de tantos amigos.

Nós, corinthianos, perdemos. Mas levamos a classificação, graças ao saldo de gols. De repente, no final da partida, sinalizadores e bombas são atirados ao gramado, mais especificamente contra o goleiro Cassio, atualmente o maior ídolo do alvinegro da capital.

Termina a peleja e os atletas saem de campo em confraternização. De repente, no entanto, começam a pipocar vândalos criminosos em campo. Um deles, na covardia, por trás, empreende uma voadora em nosso arqueiro. Se pegasse de jeito, poderia ter acabado com a carreira da vítima.

Um jogador do Santos tenta cessar o ataque. E Cassio, com dois gestos sutis, um de mão e outro de perna, recorre a um golpe de judô para se defender. Outros bandidos invadem a cancha. Um deles chega a abordar Cassio, quando é contido por seguranças.

Corrijam-me se cometo equívoco. Não lembro de nenhuma outra treta em que um espectador conseguiu entrar em campo e bater no adversário. Briga entre jogadores, comissão técnica, arbitragens, sempre tem. Mas não lembro de torcedor atingir atleta do outro time. Ontem, aconteceu.

O episódio é também obra da irresponsável diretoria do Santos que, recentemente, levou o elemento vivendeiro para servir de exemplo para seus associados e torcedores. Este perigoso incentivador da violência certamente inspirou os vândalos que mancharam a história da Vila Belmiro

Houve também uma série de fatos lamentáveis no Maracanã. Torcedores do Atlético Mineiro foram covardemente perseguidos e espancados. Uma pedra destroçou o vidro do ônibus do time mineiro. Até no outro jogo da Copa do Brasil, na Serrinha, entre Goiás e Atlético Goianiense foram registrados conflitos violentos entre as torcidas.

O futebol está exibindo para todo o Brasil um quadro de intolerância e violência sem igual em nossa história. Não é coincidência. Ao mesmo tempo, são inúmeros casos de invasões de comunidades indígenas, com agressões, estupros e assassinatos. O mesmo se passa em assentamentos dos sem-terra, em bairros dos morros e das periferias proletárias. É o horror, como aquele que varreu a Alemanha no início dos anos 1930.

Essas atitudes têm sido incentivas diariamente pelo elemento vivendeiro, com seus discursos de ódio, sua apologia das armas e sua incapacidade de compreender a divergência. Estamos numa senda perigosa de degradação do rito civilizatório. Os milicianos, na iminência de perder o jogo, adotam a tática do pombo. Derrubam as peças do xadrez.

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