Construir Resistência
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O psicótico e o empoderado

Por Léo Bueno

Em Jacarezinho, no Paraná, um fascista subiu no telhado vestido de franco-atirador com o intuito declarado de trocar tiros com a polícia.

Deu certo e ele, claro, morreu. O Bozo já é um dos maiores lançadores de candidatos ao prêmio Darwin da História.

Mas eu vinha dizendo, e já lá se vai um ano: esperem esse tipo de ocorrência se multiplicar.

Ela é irmã dos famosos neuróticos de guerra – provavelmente ‘psicóticos’ fosse um termo mais adequado – que se multiplicaram nos EUA nos anos 80.

Eram homens cuja ilusão foi destruída pelo estatuto de uma guerra, a do Vietnã, que o país perdeu. E o que faziam na sua inconformidade era uma semente do que fazem hoje os estudantes que invadem escolas armados até o rabo.

Bozo é o catalisador – consciente e ostensivo – de um terrorismo doméstico que quase não existia no Brasil. Mas que importamos com sucesso.

O caso de Jacarezinho difere do de Sinop, onde dois homens, um deles CAC, mataram sete pessoas – incluindo uma menina de 12 anos com um tiro pelas costas – depois de perder uma aposta na sinuca.

Em Sinop, a maldade foi aberta. Se houve inadmissibilidade, foi com a lei. Os assassinos não aceitaram a posição de inferioridade na qual foram jogados, ainda que ela tenha sido – termo caro a eles próprios – meritória: perderam no jogo porque foram piores. E foram à forra, como a nossa classe média ao ver pobres viajando de avião.

Os assassinos de Sinop são os empoderados do Bozo. Eles pertencem ao mesmo fenômeno dos garimpeiros ilegais de Roraima, dos madeireiros do Pará, da PRF que cometeu crime eleitoral.

Em Jacarezinho a maldade estava lá, introjetada. O elemento se voluntariou a um martírio que fizera sentido no mundo fictício construído em sua própria cabeça. Atirou contra sua própria desilusão. Podia ter sido pior – ele podia ter matado muitos transeuntes no processo, coisa que também é comum nos EUA.

Mas, e aqui o bicho pega, há muitos como ele, assim como muitos foram os neuróticos de guerra do Vietnã. Basta ver quantos minions aqui nas redes sociais ainda parecem viver num mundo fora do Mundo. O atirador de Jacarezinho é primo dos acampados em quartéis e dos golpistas de 8/1 que agora seguem encarcerados na Papaluda e na Colmeia.

São violências jogadas no país irresponsavelmente pelo Bozo e por grupos de poderosos que o apoiaram. Vai ser difícil responsabilizá-lo na Justiça por isso – se é que existe alguém disposto a tentar. Mas a culpa e o dolo do genocida são inegáveis, e a História que já começa a contar essa história. Ele sabe disso.

 

Léo Bueno é jornalista e trabalhou na rádio Jovem Pan de São Paulo e no Diário do Grande ABC, além de sites e revistas.

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