Por Simão Zygband
A Copa do Mundo no Qatar já começou, a seleção brasileira já está classificada para as oitavas de final após as vitórias sobre a Servia e Suíça, onde jogou um futebol eficiente, que podem levá-la à conquista do hexacampeonato, mesmo ainda não tendo sido convincente. O desempenho nas primeiras partidas pode ser considerado bom, mas longe de ser o melhor apresentado entre as várias equipes.
Além da contusão de Neymar, uma lesão no ligamento lateral no tornozelo direito, com edema ósseo que o tirou da primeira fase da competição, a seleção teve o desfalque do lateral-direito Danilo, com um problema ligamentar no tornozelo esquerdo. Aparentemente, apesar de serem problemas, há possibilidade de que retornem ao time nas oitavas de final, dependendo, evidentemente da recuperação de cada um, que é observada diariamente, após a realização de tratamentos dos mais avançados na ortopedia no mundo dos atletas de alto rendimento.
Mas, não são só as lesões que têm se tornado um problema para a seleção brasileira. Alguns jogadores tem apresentado sintomas gripais e até Neymar apresentou febre no dia do jogo com a Suíça, conforme revelou o meio-campista Vinicius Jr, condição bastante normal para quem tem uma contusão com edema como a do atacante. As “febrinhas”, neste caso, costumam ser normais.
“Outros jogadores estavam com tosse e com a garganta ruim”, afirmou o ponta-direita Antony, que apresentou estes sintomas, mas participou do segundo tempo do jogo entre Brasil e Suíça. Ele foi poupado dos treinos por três dias. Também o meio-campista Lucas Paquetá sentiu “mal-estar”.
O problema é que o negacionismo do presidente derrotado Jair Bolsonaro acabou contaminando o ambiente da seleção brasileira. Além de alguns atletas (principalmente Neymar) ter declarado voto no genocida, às vésperas da Copa do Mundo, criando um péssimo clima de divisão interna, inclusive junto à torcida, os jogadores não foram testados para Covid-19, apesar da pandemia estar novamente em crescimento no país. Não há um protocolo da Fifa que exige a testagem dos atletas em caso de sintomas. Há apenas uma recomendação.
“Não chegou nem perto de fazer teste (para o coronavírus)”, disse o coordenador de seleções, Juninho Paulista. Preocupado com os sintomas, Antony chegou a questionar sobre o assunto os médicos da seleção, mas ouviu como resposta que não havia nenhum indício de que algum atleta da seleção estivesse com Covid.
Para os médicos, os casos de gripe são leves e devem ser creditadas ao clima do Qatar. As temperaturas durante o dia estão em torno dos 30 ºC, mas o ar é seco. Em qualquer ambiente fechado, o ar-condicionado é equipamento necessário. O choque térmico constante entre os ambientes é o motivo para os problemas dos atletas, acredita a equipe médica. Efetivamente, entretanto, seria de bom termo efetuar os testes nos “gripados”, para dirimir qualquer dúvida. Apesar de três jogadores terem apresentado sintomas de gripe, o departamento médico da seleção brasileira decidiu que não irá realizar testes de covid-19 nos atletas.
É, com certeza, um caso típico de negacionismo bolsonarista, cujo presidente, em plena pandemia, considerou uma “gripezinha” uma pandemia que dizimou mais de 670 mil brasileiros. Até o mais humilde cidadão, ao apresentar sintomas gripais, acaba fazendo os chamados testes de farmácia, para que não restem dúvidas. Qual a dificuldade de fazer este tipo de testagem e, caso haja algum positivado, que seja isolado do grupo para não contaminar os demais jogadores? A Covid, após a vacinação em massa, negada pelo agora ex-presidente Bolsonaro, reduziu a letalidade da doença, mas prejudica o desempenho de qualquer atleta que a contraia.
Outro negacionismo típico dos tempos bolsonaristas que ocorre na seleção brasileira, conforme revelou a jornalista esportiva da Folha de S. Paulo, Milly Lacombe, é a ausência de um psicólogo na delegação, que possa trabalhar emocionalmente a equipe, que deverá cada vez mais enfrentar duríssimos adversários nas próximas fases. O atual “psicanalista” do grupo é o próprio técnico Tite, um adepto de abordagem motivacional, mas longe de ser um profissional da psicologia.
Para quem é de reza, que reze pelo Brasil.