O Museu da Democracia e dos Trabalhadores

Por Marco Antonio Piva

Foto: Paulo Pinto

Muitos aqui vão lembrar quando Lula deixou a Presidência, depois de dois mandatos, e fez sua mudança para São Paulo. Muitas das caixas que os caminhões trouxeram continham presentes que Lula recebeu ao longo do seu governo dados por pessoas tão diferentes quanto chefes de Estado, artistas e gente do povo.

Tudo foi catalogado como acervo particular, o que é bem diferente do acervo oficial do Palácio do Alvorada, igualmente catalogado desde a sua inauguração e que por isso mesmo pertence ao Estado e não ao presidente de plantão. São móveis, obras de arte e relíquias que marcam a história da nação. Já os presentes do acervo pessoal, contados aos milhares, incluindo cartas recebidas, a maioria delas escritas à mão por pessoas simples, pertencem a Lula e ele queria dar um destino nobre com a construção de um Museu da Democracia com foco na luta da classe trabalhadora. Pois bem. Procuradores levantaram a suspeita de que entre as caixas transportadas por cerca de 30 caminhões na mudança de Lula de Brasília para São Paulo estavam pertences de propriedade do Estado. Citaram até mesmo um crucifixo de autoria de Aleijadinho e peças em ouro. Foi um escândalo. Policiais federais com ordem judicial chegaram a abrir os cofres de Lula e sua esposa Marisa no Banco do Brasil onde estavam armazenados os pertences de maior valor simbólico. Expuseram os pertences à imprensa e se criou a ideia de que Lula havia “roubado” bens do Estado.

Passado o tempo, o resultado dessa ação foi sua total improcedência. Não satisfeitos, procuradores avançaram sobre a proposta de construção do Museu da Democracia. Pensado para ser construído em São Bernardo do Campo, cidade que marca a origem da trajetória política de Lula, a ideia sofreu toda sorte de especulações até chegar ao ponto de paralisar sua conclusão. Dessa vez, a lista de acusados aumentou.

Além de Lula e Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula, foi incluído Luiz Marinho, à época prefeito de São Bernardo do Campo.
O tempo passou e nada foi provado contra os acusados, mas ficou aquela mancha para alimentar a falsa ideia de que Lula tomou para si aquilo que era patrimônio do Estado, embora tudo o que tenha recebido sempre foi propriedade sua.
Atualmente, os presentes recebidos por Lula durante os seus dois mandatos estão guardados num depósito alugado pelo sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema à espera de um destino. A ideia de um Museu do Trabalhador e da Trabalhadora segue viva. Quem sabe se tornará finalmente uma realidade, provavelmente com uma nova leva de presentes do terceiro mandato.

A história merece.

 

Marco Antonio Piva é jornalista, consultor, produtor e apresentador do programa “Brasil Latino”, na Rádio USP, e diretor do canal youtube “O Planeta Azul”.

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