Por Fernando Castilho
“É necessário que as instituições não se deixem enganar pela falsa interpretação de que este ano foi mais ‘suave’ pelo fato de Bolsonaro não ter dito coisas como chamar um ministro do Supremo de canalha. Bolsonaro anteontem [7/9] abusou do seu poder como chefe de Estado, usou recursos públicos para a campanha, dividiu o país em dia de união, apropriou-se de data nacional, desrespeitou códigos, protocolos e leis. E, sim, ameaçou a todos com golpes de Estado”.
“Se Bolsonaro sair de novo impune de todo o escandaloso abuso de poder exibido durante todo este infeliz Sete de Setembro, é porque o país se deixou encurralar por um golpista que usa todas as técnicas de manipulação para destruir a democracia”.
A fala da jornalista Miriam Leitão é forte, mas impotente e eivada da hipocrisia daqueles que gritam “PEGA LADRÃO” enquanto eles mesmos foram os autores do roubo.
Leio os jornais e constato que jornalistas do naipe de Reinaldo Azevedo, Josias de Oliveira e a própria Miriam Leitão, entre outros, se revoltam com as ilegalidades cometidas pelo capitão e correm a escrever contra elas, como se eles mesmos não fossem os artífices do estado de coisas em que nos encontramos hoje.
Miriam, porém, tem razão. Josias e Reinaldo também. Parecem gritar em uníssono: É PRECISO QUE AS INSTITUIÇÕES FAÇAM ALGUMA COISA! QUE PUNAM BOLSONARO!
Mas como?
O que aconteceria se o TSE decidisse, acolhendo os pedidos dos partidos de oposição, cassar a candidatura do presidente?
Mais de 30% da população, aferida nas pesquisas, apoiam o canalha! Isso dá cerca de 64 milhões de pessoas! Muitas delas, armadas! Muitas delas, violentas!
Como o TSE assumiria o risco de uma irresponsabilidade que poderia desencadear um número de mortes que não se pode estimar?
A verdade é que o monstro era apenas um embrião em 2016. Deveria ter sido abortado na época, mas, ao longo destes 6 últimos anos, vem sendo muito bem alimentado e, surpresa, cresceu a ponto de não mais podermos destruí-lo a não ser pelo voto.
Foi em maio de 2019, apenas 5 meses após sua vitória, que Jair Bolsonaro participou de uma manifestação golpista em Brasília que pedia fechamento do Congresso e do STF. Flagrante crime de responsabilidade, muitíssimo além das pedaladas fiscais que derrubaram Dilma Rousseff e, que hoje até ministros do STF admitem, não configuraram nenhuma ilegalidade.
Nenhuma instituição, seja o Congresso, então presidido por Rodrigo Maia, seja o STF, então presidido por Dias Toffoli, ou seja, a PGR, então presidida por Raquel Dodge, foi capaz de cortar as asinhas do monstro que começava a engatinhar. Limitaram-se sempre a notas de repúdio.
Agora o monstro está maior que todos eles e se diz imbrochável, possivelmente uma metáfora (não sei se ele tem habilidade para isso) para incontrolável ou irrefreável.
Somente o presidente do TSE vem travando uma árdua batalha contra esse monstro, mas, infelizmente, não vem sendo seguido pelos ministros do STF. Luta sozinho, se expõe sozinho, e, por isso, não tem força suficiente para contê-lo.
Assistimos o capitão utilizar das comemorações do Dia da Independência, não só para ameaçar um golpe, mas também para fazer comício e sugerir que, se eleito, não deixará mais o poder, transformando o Brasil numa autocracia, eufemismo para ditadura. Tudo isso, pago com dinheiro público.
Farta exposição dada pela cobertura da imprensa lhe dará pontos nas próximas pesquisas, creio eu. Ciro Nogueira até já aposta numa virada.
Infelizmente precisamos esquecer as instituições. Nada poderão fazer a não ser aplicar alguma multinha ao criminoso e emitir notas de repúdio.
Até mesmo para a sobrevivência das delas, a esperança é Lula.
Para nossa grande imprensa, tão atacada pelo presidente, a sobrevivência depende do democrata Lula.
Somente ele será capaz de restaurar a importância, o respeito e a independência das instituições e da imprensa. E elas sabem disso.
É preciso que a grande imprensa, que tem começado a atacar o presidente pelas suas falas e atitudes golpistas, passe para a fase seguinte que é a de entrevistá-lo, não só para ouvi-lo, como tem feito, mas para colocá-lo contra a parede em casos dos imóveis adquiridos com dinheiro vivo e das rachadinhas, como fez a jornalista Amanda Klein. Que escalem seus jornalistas investigativos para esmiuçar a vida do capitão e de seus filhos, como fizeram Thiago Herdy e Juliana Dal Piva do Uol. É preciso mais. O assassinato de Marielle Franco, por exemplo, é assunto considerado tabu pela família do presidente e precisa ser elucidado. Esse é o papel da imprensa.
Urge, pois só faltam poucas semanas para o primeiro turno das eleições, que a maioria dos ministros da suprema corte se uma em sua própria defesa e não deixe Moraes isolado nessa luta.
Acima de tudo, é necessário que a campanha de Lula convoque a população para sair às ruas contra a possível reeleição do presidente.
O monstro Bolsonaro, tal qual um Godzila, precisa ser atacado por todas as forças que desejam a liberdade, a democracia e o estado de direito, sob pena de termos que viver sob uma ditadura miliciana.
Fernando Castilho é arquiteto e professor. Criador do blog Análise & Opinião