O megaevento da vacinação contra a #Covid-19

Por Adriana do Amaral

A sensação é de ver um ídolo de perto

Anunciado o cronograma oficial de imunização: 840 doses de vacina para o grupo etário acima de 65 anos. O maior lote até então, o que justificou uma super operação, via drive thru na cidade do interior de São Paulo.  Pelo histórico anterior, apesar de a campanha ser iniciada em horário comercial, a partir das 8h, era preciso chegar cedo para garantir a senha que daria direito à vacina. Qual delas: não foi informado anteriormente.

Chegamos minutos antes das seis horas. Um pequeno atraso por conta do trajeto, pois algumas das ruas que dão acesso ao Centro de Eventos da cidade estavam bloqueadas pela organização.  Um “exército” nos esperava, contemplando o alto escalão municipal. Estacionamos na segunda fila, mas para a surpresa nossa senha era número 334. Como assim?

O interior do espaço destinado à vacinação estava lotado, repleto de carros. Os primeiros chegaram às 20h do dia anterior e dormiram em seus automóveis, protegidos pela segurança municipal. Ainda estava escuro quando chegamos e vimos o dia clarear aguardando o maior objeto de desejo nessa #pandemia: a vacina.

Foi uma longa espera…

Pouco antes das 7h e a prova de que a vacina estava a caminho: funcionários das diferentes secretarias envolvidas no megaevento conferiam os documentos (RG e endereço) e preenchiam a guia de vacinação. Descoberto o mistério: vacina da AstraZeneca, com agendamento da segunda dose para meados de julho!

Mas a espera continuava. Todos protegidos em seus automóveis. a maioria usando máscaras. Mas, e quem não tem carro? Doses foram reservadas e seriam aplicada nas unidades básicas de saúde aos pedestres.

Avança a hora e contamos os minutos. Percebemos os primeiros movimentos dos carros na parte interna do Centro de Eventos. Mais algum tempo e somos nós a entrar. Então a emoção aflora: estamos vendo a “magia” acontecer.

Sinto a mesma sensação de quando entro na barreira de “revista”, quando finalmente somos liberados para entrar na arena do show.  E como sempre acontece, a espera angustia…

As filas sem fim do entorno concentram-se agora em quatro filas gigantescas. É claro que a #leidemurphy vigora. Entramos na terceira fila, lado esquerdo. Fila que tem o obstáculo da terceira maior curva a ser feita e divide o trabalho da menor equipe de vacinação.

A espera se agiganta. E não adianta reclamar, pois apesar de a fiscal de trânsito argumentar que a desvantagem é fruto da nossa imaginação, a demora se prolonga provando que estávamos certos em reclamar. Fazer o quê? Só nos resta desacelerar.

Os carros das filas 1 e 2 somem de vista, mas pelo menos não estamos na fila quatro. Melhor olhar pelo lado menos cruel, não é mesmo?

Passa das nove, e nada de chegar a nossa vez. O carro ao lado, fila dois, avança. A senha dele é 510.

A nossa fila é lenta, mas as 9h30 chega a nossa vez.

A enfermeira explica o procedimento, vemos o líquido precioso ser transferido para a seringa, o medicamento ser injetado no braço. Remete ao momento mágico em que os acordes anunciam a presença do “rockstar” no palco, quando testemunhamos que ele existe e não é apenas um sonho coletivo.

Mas, eu vi o meu ídolo de forma indireta, pela fresta. Como ainda não completei “a melhor idade”, a minha faixa etária não está contemplada em nenhum calendário vacinal. Principalmente neste momento em que as pessoas com comorbidades e profissionais em atividades essenciais integram um novo grupo prioritário… Justo. Eu posso esperar.

O sentimento é de gratidão, de alívio.

Viva o #SUS – Sistema Único de Saúde, referência mundial pela universalidade e gratuidade da atenção à saúde brasileira. Um modelo que corre riscos e precisa ser preservado, independente das ideologias político partidárias vigentes.

Por falar em políticos, as eleições de 2022 estão logo aí. Parece que muito candidato se alvoraça e de um momento para o outro os discursos se alteram.

Será a caça ao voto – ou a pressão interna e internacional- o catalisador de um Programa Nacional de Vacinação eficaz? Ou, teremos de esperar 2023 chegar?

 

Nota da autora

Na cidade de Boituva, palco dessa experiência, ao longo de 13 meses de #pandemia, 4893 pessoas tiveram diagnóstico positivo para a #Covid-19 quando mais esta etapa de vacinação foi cumprida, no dia 20 de abril. Noventa e duas vidas foram perdidas para o #coronavírus.

Após o lockdown prolongado, nos meses de março/abril, os números de casos suspeitos diminuíram, mas com a reabertura do comércio local devem aumentar, como mostra o histórico em todo o Brasil. Assim, a corrida pela vacina continua país afora, onde pouco mais de 10% da população está imunizada (parte espera a segunda dose).

De acordo com o ultimo Censo realizado, no ano 2000, vivem no município cerca de 61 mil pessoas. O turismo, no entanto, faz a proporção de pessoas aumentar consideravelmente nos finais de semana, feriados e férias. Boituva tem apenas um hospital, sem leitos de UTI – Unidade de Terapia Intensiva. Os pacientes graves são transferidos, principalmente para a cidade vizinha de Sorocaba.

Realidade local que reflete a realidade global, onde apenas as medidas preventivas físicas (uso de máscara, álcool em gel e distanciamento social) minimizam o impacto de uma doença letal. Isso, enquanto a vacina não for um direito de todos.

 

Crédito do foto: #GazetaViews

 

 

 

 

 

 

 

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