Por Simão Zygband
A votação de alterações no Plano Diretor de São Paulo, muito mais do que uma derrota dos interesses da sociedade para a cobiça e a ganância das construtoras, serviu muito mais para sinalizar tendências na política municipal, do que propriamente defender a cidade da voracidade dos negociantes imobiliários.
Na atual conjuntura, não havia como derrotar na Câmara Municipal de São Paulo, os interesses das corporações imobiliárias, que injetaram muito dinheiro para efetuar as alterações de seus interesses, permitindo utilização de áreas antes dificultadas pelo Plano Diretor do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), além flexibilizar ainda mais dimensões e tamanho dos empreendimentos. Podemos dizer assim que as construtoras literalmente passaram a boiada em solo paulistano.
Diante da derrota inevitável (a bancada governista votou fechada na proposta), a divisão acabou acontecendo no PT, dos quais 5 vereadores votaram com o prefeito (Arselino e Jair Tatto, Alessandro Guedes, Manoel Del Rio e Senival Moura) e 3 votaram contra (Hélio Rodrigues, João Ananias e Luna Zarattini). O governo teve 44 votos favoráveis e apenas 11 contrários. Mesmo que os 5 petistas tivessem votado contra, ainda assim Ricardo Nunes teria conseguido passar com facilidade o projeto das construtoras. Os 5 vereadores do PSOL (Celso Gianazi, Elaine do Quilombo Periférico, Jussara Basso, Luana Alves, Silvia Ferraro e Toninho Vespoli) votaram contra a proposta, assim como 1 do PSB (Eliseu Gabriel) e a única defecção governista (Cris Monteiro) do Novo.
Portanto, a votação que rachou o PT serviu unicamente para que o grupo majoritário no Diretório Municipal paulista, ligado aos irmãos Tatto (dois deputados federais, um estadual e dois vereadores) não apenas defendesse interesses políticos próprios, como também sinalizasse que o controle sobre as eleições municipais de 2024 necessariamente passará pelas mãos deles. Leia-se, a candidatura de Guilherme Boulos, apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
Jilmar Tatto, a principal liderança do grupo “tattista”, duas vezes secretário municipal dos Transportes (gestão Marta Suplicy e Fernando Haddad) e secretário nacional de Comunicação do PT, já utilizou a mídia para defender que o partido tenha candidato próprio e desista da candidatura Boulos. Ele mesmo foi candidato a prefeito nas últimas eleições e sequer conseguiu ir ao segundo turno, obtendo uma das piores votações históricas da legenda em pleitos municipais.
Ao votar com o governo de Ricardo Nunes no Plano Diretor, os Tatto dão algumas sinalizações: poderão eventualmente romper com o PT e entrar em outra legenda (o que seria um extremo complicador para a esquerda, pois são petistas históricos ) ou ter suas reivindicações atendidas pelo presidente Lula de ter uma candidatura própria no município, rompendo um acordo, o que também seria muito traumático, uma vez que esta ruptura deste nível inviabilizou as candidaturas da esquerda no Rio de Janeiro. Nunca é bom não cumprir acordos na política.
Mas existe uma terceira opção que deverá ser analisada com muito carinho pelos arquitetos da candidatura de oposição a Ricardo Nunes, que entre outras barbaridades, foi fiel apoiador do ex-presidente (sic) Jair Bolsonaro em São Paulo. Trazer, enquanto é tempo, Guilherme Boulos para o PT e apaziguar as bases da oposição em São Paulo. Eu, se fosse ele, a estas alturas, estaria pensando seriamente em vestir a camisa estrelada.