Por Alfredo Herkenhoff
No plano imediato e no curto prazo, como observou o advogado e jurista Pedro Serrano, foi algo bom pra Bolsonaro a revelação dos diálogos entre Mauro Cid com outros oficiais tratando abertamente da conspiração para impedir a posse de Lula.
No cenário vislumbrado como favorável a Bolsonaro, na melhor das hipóteses ele seria condenado por prevaricação, silêncio obsequioso, omissão criminosa diante de conspiradores. A favor do presidente, a ideia, via provas diversas, de que Bolsonaro jamais defendeu explicitamente um golpe de Estado de caráter militar. Mauro Cid diz no telefone que Bolsonaro sabe da conspiração, mas, sem apoio do Alto Comando, não pode dar ordem ao Exército para desfechar a intervenção via Estado de defesa, de sítio, GLO ou na linha do general Mourão de 1964, botando a tropa na rua para prender Xandão e anular a eleição perdida.
Tudo leva a crer que Bolsonaro é o chefe silencioso da intentona golpista que fracassou nos acampamentos, fracassou no 12 de dezembro, fracassou nas bananas de dinamite da Noite de Natal e fracassou no famigerado Dia 8 da Infâmia. Bolsonaro é fracote militar e politicamente.
Uma omissão pode ser tão ativa quanto o dedo do assassino que dispara a arma de fogo seguindo a ordem do mandante. Juristas costumam dar como exemplo de omissão criminosa uma discussão entre dois adversários no convés de um barco. Estão a sós e se desentendem. Mas não brigam fisicamente. Mas um cai nágua e não sabe nadar. O que ficou no convés não lhe joga uma boia. Omitiu-se. Matou-o. E manteve o silêncio sobre seu crime de omissão assassina.
Juristas, jornalistas e historiadores também têm lembrado, nas últimas horas, que o golpe de Estado que mandou Pedro II embarcar de volta para Europa, 24 horas depois do 25 de novembro, foi um movimento que não tinha o apoio da maioria dos mais importantes generais no comando do Exército Imperial. Não precisava. Bastava a omissão ou obediência bandida. Ou seja, Bolsonaro talvez não tenha dado ordem para o Exército intervir não porque temesse não ter apoio suficiente no Alto Comando. A suspeita seria a de que os generais no topo e o presidente estavam devidamente inteirados de que Biden mandou ao Brasil, no segundo semestre de 2022, poderosos como Victoria Nuland, Sullivan e LLoyd Austin para deixar bem claro que a Casa Branca não aceitava que um atrelado ao Trump impedisse a posse do governo social democrata formado por Lula, Alckmin, Reinaldo Azevedo, Walter Casagrande, Katia Abreu e o escambau…
No médio ou longo prazo, a situação de Bolsonaro não parece boa. É muita loucura, fanatismo e corrupção ao seu redor.
Alfredo Herkenhoff é jornalista e escritor. Trabalhou por 20 anos no JB em várias funções, de secretário a colunista do Caderno B. Colaborou com o semanário Opinião nos anos 70.