Nos anos 1990, entrevistei Luiz Pinguelli Rosa, um dos mais brilhantes intelectuais brasileiros de todos os tempos.
O tema inicial da conversa não tinha relação com política. Eu produzia uma matéria sobre Teoria do Caos e Ciências Não Lineares. Então, era um tema mix de ciência física com filosofia.
Primeiramente, o que me impressionou foi a sensatez do Luiz, um polímata, capaz de raciocinar de forma transdisciplinar, misturando todas as áreas possíveis do conhecimento.
Conversamos um tempão e, de repente, a Teoria da Relatividade já encaminhava a troca de ideias para o campo da universalização de direitos e sobre as (então, propostas) quotas nos institutos de formação superior.
O professor contou ter iniciado a vida na caserna, ainda jovem na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Se não me engano, saiu de lá como oficial das FFAA. Depois, foi para o Instituto Militar de Engenharia.
Então, conhecia os intestinos do poder, desde a época da Ditadura Militar. Tinha essa capacidade de unir pontas. Teve um livro que, de novo, se não me engano, versava sobre tecnociência e humanidades.
Era um físico com romântico afeto pela metafísica. Depois, tornou-se uma figura conhecida no campo das mudanças climáticas, que enxergava de maneira formidavelmente estrutural.
Teve cargos nos governos petistas, mantendo sempre a independência crítica, com moderação e sensibilidade.
Lembro de que falamos sobre fractais. E ele me pareceu um menino, feliz da descoberta de um lúdico desenho. Um desenho sem fim. Acho que hoje, depois do último suspiro aqui, ele viajou para lá.