Por Jacques Gruman
Ainda era cedo quando fui hoje à avenida Atlântica fazer minha caminhada de rotina. Os carros de som da manifestação bolsonarista programada para as 10 horas já estavam a postos e faziam os primeiros testes. Um cidadão histérico ejaculava em densos decibéis que o Brasil deve estar unido em torno de um “Deus único” (!) e os terroristas que vandalizaram prédios públicos em 8 de janeiro de 2023 não passavam de inocentes úteis. “Presos políticos”, insistia.
Mais tarde, vi imagens do furdunço na televisão e faço breves observações:
1. Havia um público bem grande, mas certamente abaixo das expectativas da extrema-direita. Chama a atenção a diversidade etária dos apoiadores do Capitão Fecal. É triste ver gente jovem comprometida com a cloaca reacionária que emergiu com a família do Messias.
2. A trilha sonora era marcial e gospel. Numa esquina, gravações amplificadas de marchas militares, ao gosto do que o Menino ouvia na televisão nos desfiles de 7 de setembro. Gosto estranho por coturnos, uniformes, submissões hierárquicas, rigidez mental.
3. No lugar onde o Inominável discursou, havia um mastro com três bandeiras: Brasil, Estados Unidos e Israel. Aqui, o papo fica mais sério. Há uma articulação internacional da extrema-direita, que inclui congressos, conferências e encontros de natureza diversa para acertar a atuação conjunta deste campo. Os últimos acontecimentos na Europa (na Alemanha, destacadamente) mostram que estas iniciativas estão em ascensão. Será um erro muito grave subestimá-las. O Brasil é um prato suculento no cardápio do retrocesso. Mais do que nunca, é necessário identificar o inimigo principal e combatê-lo sem desvios/diversionismos.
Jacques Gruman é engenheiro químico. Foi presidente do Sindicato dos Químicos e Engenheiros Químicos/RJ.
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Bom texto. Temos que ficar atentos.