Construir Resistência
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O Barão das madrugadas

Por Gilson Ribeiro Oliveira 

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Não é uma série, que acho que até existiu um dia, escrita no hebdo “O Pasquim”, talvez criada pelo jornalista Ivan Lessa. Se não se faz uma série, sem intenção de temporadas, tampouco tenho a intenção de tirar a naftalina das gavetas da minha antiga vida. Quando escrevo, insisto, também me divirto. Lembrando e escrevendo. Portanto, mais que saudosismo, divertimento. Não sei o nome real do então rapaz aqui retratado. Na medida que neste espaço, bato na tecla, sem a intenção de criar verbete de enciclopédia, muito menos uma reportagem, sigo tecendo a história que convoca a divertida memória. O nome dele era Barão. Simples. Ele chegava, nas mesas dos bares descolados, na madrugada paulistana, com seu terno, nem sempre impecável, mas sempre de óculos escuros e de gravata borboleta. Para sentar numa mesa que sentia e mirava, pedia licença. Sentava. Normalmente, não se fazia intrometido nas diversas e calouradas conversas. Ouvia sentado. Até que…dizia…”meu nome é Barão do Pandeiro!”. Começava a tirar a capa que guardava seu instrumento: ” Posso alegrar a mesa? Adianto: não quero dinheiro!”. Quando o conheci estava com os cartunistas Glauco e Angeli e o
editor Toninho. Foi hilário. Eu disse…manda! O Glauco começou a desenhar o cara num guardanapo, com aqueles seus traços, me perguntou se estava bom, disse que parecia o Geraldão Black, o Stevie Wonder tocando pandeiro. O Barão ouviu, me disse: Me respeite. Sou sobrinho do Lupicínio Rodrigues! Já ouviu falar?”. Eu sem graça, passado disse, é claro! Emendei: toca…Conde!- “Conde não…Barão!”. Não é isso, pedi o samba, “…hoje cedo no meu barracão encontrei minha roupa de Conde no chão…”. Ele tascou. Ficamos amigos. Ele me provou um dia que também existia de tarde. Apareceu na Vila Madalena no Bar Empanadas. Saímos de lá para minha casa. Ele tocava e sabia muito da música popular. Grande figura popular. Bebia bem e nunca pagava. Fazia parte. Lindo, fico sabendo que o Barão, com seu pandeiro, está vivo. Talvez tocando no Rio. Talvez na Praça, em São Paulo, Benedito Calixto. Na fé. Até. Saravá.

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Gilson Ribeiro Oliveira – jornalista

Nota do editor: diplomado no bar da Faculdade Cásper Líbero, no famoso Buraco, tive a oportunidade de apreciar o exímio domínio do pandeiro que possuía o Barão.  Foi onde conheci o Gilson, aliás.  Saravá!

Um vídeo com o trabalho do Barão:

 

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