O amor de Dom pelo Brasil foi mortal para ele

Por Lúcia Helena Issa

 

Em foto de 2019, Dom Phillips entrevista indígenas em Roraima – João Laet / AFP

 

Tristeza imensa.
Meu coração está devastado como jornalista e como mulher.
Logo que cheguei ao Rio, para morar e trabalhar como correspondente internacional, fiz uma das coberturas que me marcariam para sempre, assim como a cobertura de campos de refugiados palestinos no Oriente Médio, de mulheres palestinas massacradas e expulsas de sua terra por Israel há décadas.
O imenso momento que testemunhei e cobri ao chegar ao Rio foi a Conferência Internacional RIO + 20 , sobre a Amazônia, a destruição das florestas, o aquecimento global, etc.
Foi exatamente naquela primeira semana de evento que pude conhecer e conversar por alguns minutos com Dom Philips. Foi um encontro rápido, mas que ficaria tatuado em mim para sempre pela forma emocionada como Dom me falou sobre a Amazônia.
Dom Philips dedicou grande parte de sua existência a dar voz aos indígenas, aos povos originários e a denunciar a destruição da CASA de todos nós.
Dom Philips, assim como eu, era um jornalista da palavra escrita e não da imagem, um jornalista que amava escrever as histórias de indígenas que lutam contra o genocídio, assim como eu amo escrever histórias de mulheres palestinas refugiadas que lutam contra o genocídio do povo palestino por Israel.
Dom Philips queria tornar visíveis e humanos todos aqueles que a sociedade havia desumanizado.
Amava a Amazônia como muitos de nós amam, mas de uma forma visceral e essa dedicação tornou- se MORTAL para ele e para o indigenista Bruno Pereira.
Mortal desde o instante em que o próprio presidente do Brasil afirmou que os indígenas eram apenas ” vagabundos”, que não teriam mais “um centímetro de terra demarcada ” e transformou a Amazônia em terra sem lei. Mortal desde o instante em que um presidente transformou a FUNAI em fundação de ódio aos indígenas e não mais de proteção a eles.
O amor de Dom pelo Brasil foi mortal para ele.
Perdoe- nos, Dom, por termos nos tornado uma nação mortal para todos os jornalistas que, como eu e você, decidiram lutar contra a sua mais desumana destruição.

 

 

Lúcia Helena Issa é jornalista e colunista do Monitor do Oriente Médio (MEMO)

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