O 7 de setembro das milícias palacianas

Por Simão Zygband

 

Nunca imaginei que a data cívica do 7 de setembro seria um dia apavorante para o país. Nem mesmo nos governos militares, que insistiam em demonstrar o poder das tropas e manter os brasileiros sob uma ditadura sangrenta, causou tanta apreensão como a que deverá ser “comemorada” na próxima quarta-feira.

Tudo por que o elemento que ocupa atualmente a cadeira presidencial, um desajustado psiquiátrico, quer apavorar a nação com o fantasma sombrio de um suposto golpe militar. O dito presidente está virtualmente derrotado nas urnas e nem que todos os soldados marchem sobre a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, conseguirá a reeleição. Para isso, conclama párias como ele a apavorar no 7 de setembro.

O povo não suporta mais o elemento, que se diz Comandante Supremo das Forças Armadas, mas nem de longe honrou a farda que vestiu quando foi militar, carreira interrompida precocemente por ter sido colocado na reserva por ter pretendido colocar bombas nos quartéis. Para azar do país, enveredou para a política, conseguindo cociente suficiente para se eleger vereador, trilhando uma obscura carreira parlamentar que o levou à presidência da República, com votos e articulação de inconsequentes como ele.

Apesar de querer “celebrar” o 7 de setembro, de ter dado cargos com vencimentos polpudos ao oficialato das Forças Armadas, o elemento que ocupa temporariamente a cadeira presidencial tem vínculos mais evidentes com as milícias cariocas do que propriamente com atividades da caserna. Prefere se ligar ao lado podre do Exército, cuja história revelou torturadores sanguinários como o coronel Alberto Brilhante Ustra, a quem o bolsonarismo presta loas.

Veja o que escreveu reportagem do portal The Intercept Brasil sobre o vínculo do clã com atividades milicianas:

“Orgulhosa de ser militarista, a dinastia Bolsonaro nunca escondeu seu apreço pela milícia, grupos de paramilitares formados por ex-policiais, PMs, bombeiros e agentes penitenciários que torturam, roubam, traficam e dominam economicamente grande parte do Rio de Janeiro.

Flávio Bolsonaro ( o filho do “presidente”) já propôs inclusive a legalização desses grupos paramilitares. No início de seu segundo mandato na Assembleia Legislativa do Rio, em 2007, ele votou contra a instalação da CPI das Milícias, que entrou em pauta após um grupo de milicianos torturar por horas a fio uma equipe de jornalistas do jornal O Dia. A justificativa? Milícias não eram tão ruins assim e as pessoas são muito felizes em áreas dominadas por paramilitares.

Em 27 anos de discursos como deputado na Câmara, Jair Bolsonaro defendeu milicianos “do bem” e grupos de extermínio pelo menos quatro vezes. A primeira, em 2003, ao defender grupos de extermínio:

“Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu Estado só as pessoas inocentes são dizimadas.”

Em 2008, ao criticar o relatório final da CPI das Milícias, Bolsonaro disse que “não se pode generalizar” ao falar de milicianos. Na época, a CPI pediu o indiciamento de 266 pessoas, entre elas sete políticos, suspeitas de ligação com grupos paramilitares no Rio.

“Querem atacar o miliciano, que passou a ser o símbolo da maldade e pior do que os traficantes. Existe miliciano que não tem nada a ver com ‘gatonet’, com venda de gás. Como ele ganha 850 reais por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade. Nada a ver com milícia ou exploração de ‘gatonet’, venda de gás ou transporte alternativo. Então, Sr. Presidente, não podemos generalizar.”

Jair Bolsonaro, vale lembrar, foi o único presidenciável a não se manifestar sobre a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes. E Flávio Bolsonaro foi o único deputado que votou contra a vereadora assassinada receber a medalha Tiradentes como uma homenagem póstuma”.

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