Por Moisés Mendes – em seu blog
A cidade de São Paulo está entregue à mediocridade do emedebista Ricardo Nunes porque o prefeito eleito, o tucano Bruno Covas, morreu em 2021. Nunes era o seu vice e está aí tentando a reeleição.
Se Nunes for reeleito e morrer, quem assumirá será o seu vice. E o seu vice, na chapa da campanha à reeleição, é o coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Mello Araújo, do PL (foto). Mas Nunes não precisa morrer para que o Projeto Rota funcione.
Araújo já comandou a Rota, o batalhão famoso por ações violentas e arbitrárias e por assassinatos em série. Bolsonaro foi quem determinou que o miliar reformado será o vice. E o governador Tarcísio de Freitas foi quem anunciou a decisão.
Por que essa escolha é apresentada assim de forma tão explícita como coisa de Bolsonaro e do governador? Porque os dois precisam ser identificados como chefes não só da aliança MBD-PL, mas como padrinhos da escolha de um PM vinculado a um pelotão violento.
Bolsonaro e Tarcísio impuseram a Nunes uma missão, a de ser subalterno, com os dois assumindo a mensagem da campanha: a chapa é de extrema direita, com um militar para tutelar os civis.
Repete-se o que o próprio Bolsonaro fez com Hamilton Mourão em 2018 e tentou repetir na eleição de 2022 com Braga Netto. Perdeu a eleição e perdeu o golpe, envolvendo o general na trama do movimento golpista.
Bolsonaro e Tarcísio militarizam indiretamente o partido que, por trajetória histórica, enfrentou os militares na ditadura, enterrando agora o que restava de pedaços da alma do MDB.
O fascismo, que acabou com o PSDB e engoliu suas estruturas em São Paulo, agora engole o MDB de Franco Montoro e Orestes Quércia e que antes foi também de Mario Covas, o avô de Bruno que depois ajudaria a fundar o PSDB.
Infiltraram um PM da Rota na campanha do MDB, que já não apita mais nada. O PL de Valdemar Costa Neto, que é chefiado na verdade por Bolsonaro, impôs o que deseja para São Paulo, numa coligação de 12 partidos. O bolsonarismo tem certeza de que o prefeito seria quase um zero sem o apoio impositivo da extrema direita.
Em 2017, em entrevista ao UOL, o coronel agora escolhido por Bolsonaro e Tarcísio defendeu que brancos das áreas de ricos e de classe média de São Paulo devem ter tratamento diferente da PM em relação a moradores negros e pobres das periferias. Isso foi o que ele disse:
“É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado”.
Nunes sabe que será tutelado, se for reeleito, até porque a eleição para a prefeitura de São Paulo é decisiva para a definição dos rumos da política em 2026, quando da eleição presidencial.
Não será preciso que uma fatalidade aconteça e Nunes se ausente da prefeitura. Com ou sem ele, a Rota finalmente tem a chance de governar a cidade de São Paulo, sem intermediários.
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim)