Novas entradas… ou quando não há saídas

Por Sergio Papi 

Em tempos de crise moral e política, quando aproveitadores tomam o poder, a História mostra, não é raro ver nascer no seio do povo de qualquer país, sentimentos nacionalistas ou xenófobos. A coisa é contagiosa e se espalha como gripe entre todo tipo de cidadão, independente de status social. Vai da ralé aos bacanas, todos unidos em crenças salvacionistas ou purificadoras, seguindo ideais nacionalistas esdrúxulos e líderes messiânicos duvidosos.

Esse tipo de sentimento, muito comum na Rússia, na segunda metade do século retrasado, pode desandar em atos tresloucados, tipo de coisa que, sendo eu por caráter genético um pacifista, sou avesso, rejeitando igualmente credo dogmático, e sendo ainda, que fique claro, puro espírito internacionalista. Mas, devo confessar, mesmo eu ando com umas ideias meio brasiliófilas.

A ebulição social ocorrida em longínquas estepes asiáticas, além de violenta, marcou terrivelmente a alma daquele povo, com reflexos evidentes nos dias bélicos de hoje, onde se homenageia no antigo Estádio Lênin, o patrono do Exército, que já foi vermelho, São Jorge, com as bênçãos do Patriarca Ortodoxo, como nos tempos de Nicolau I. Só São Leon Trotsky na causa. E nem vamos falar dos alemães ou dos franceses.

Na condição servil aos cidadãos de meu país, estudioso de mapas históricos antigos, como ideólogo da cepa dos melhores pensadores tropicais brasileiros, sul-hemisféricos, não custa especular aqui em mal traçadas linhas, qual seria o etos de um movimento de, vamos dizer, soerguimento do orgulho nacional.

Movimentos assim exigem uma fé inabalável em nos considerarmos acima dos demais povos. Culturalmente superiores. Ajuda bastante sermos o único pentacampeão mundial de futebol, mas há de termos objetivos mais ousados para que o mundo nos note.

Como principais baluartes de nossa aspiração, a religião, – que temos aqui em larga e majoritária escala – o passado de grandeza, falso ou verdadeiro e, claro, uma meta militar expansionista, o chamado destino manifesto que faz da China, dona incontestável do Tibete e a Rússia, da Ucrânia.

Revendo as glórias do passado, nossas conquistas, muitas delas na base da lábia, como a expansão amazônica ou a compra do Acre ou mesmo na bala e usando armas biológicas, como no caso da anexação do Sudoeste mato-grossense, na Guerra do Paraguai, deparei-me com o inusitado feito histórico de Dom João que, desejando uma doce vingança contra Napoleão, tomou militarmente a Guiana Francesa, só a devolvendo depois de tratados e acordos.

Está aí uma ideia que não deve ser de todo desprezada: a anexação da Guiana Francesa pelo nosso glorioso exército. Nossos generais, fartamente alimentados com picanha e tendo ao seu dispor dispositivos anímicos poderosos como o Viagra, munido de doutrinas formuladas na ESG, deveriam considerar a aventura. Abririam passagem aos nossos novos bandeirantes, garimpeiros, caçadores e madeireiros, garantindo assim botins que ajudariam em muito na melhora das contas do tesouro, ora deficitário devido a gastos imprescindíveis com cloroquina.

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