Por Nelson Nisenbaum
Amigas e amigos, como estou no quarto dia de sintomas de COVID-19, não conseguirei fazer o sagrado boletim semanal “Coronavírus e política, uma infecção cruzada” das sextas-feiras à tarde e ao vivo.
Mas quero pelo menos trazer a vocês algumas informações que considero importantes.
Certamente estamos no pior momento da pandemia se considerarmos o número de casos de doença sintomática na Grande São Paulo. E certamente cada um de vocês não viu em nenhuma época de suas vidas tantos conhecidos diretos e indiretos contaminados.
Os números oficiais apontam para algo em torno de 45.000 casos/dia e média semanalizada de 36.000 para o Brasil. Esqueçam estes números, a sub-notificação já era a praxe no início da pandemia, e só faz piorar. O governo federal, agora acompanhado por governos estaduais em ano eleitoral passou o rodo tão facilmente como foi inibida a publicação dos dados da pesquisa XP desta semana onde apontava-se a vitória de Lula no primeiro turno e coisas ainda piores para o delinquente da República, como por exemplo, o fato de ser visto pela população como menos honesto que Lula.
Por que esta explosão de casos agora? Ontem ao ver o Jornal da Cultura acompanhei a teoria do Prof. Gonçalo Vecina, que atribui o estouro às características das sub-mutações da variante Ômicron, capazes de “burlar” nossa imunidade adquirida por vacinas que foram fabricadas para a versão inicial do SARS-Cov-2. Claro que a teoria é boa, mas opto por outro caminho. Fosse esta a única causa, a mortalidade e a morbidade estariam muito mais altas. Sabemos que no momento internações e mortes só ocorrem em gente não vacinada ou sub-vacinada (duas doses iniciais sendo a última há mais de 9 meses).
Ou seja, a imunidade conferida por 3 e 4 doses é capaz de segurar eventos hospitalares e mortes, como sempre fez a vacinação contra Influenza. Na minha percepção, aqui anunciada desde o começo do ano, a questão é muito mais ligada à queda da imunidade conferida pelas vacinas ao longo dos meses, coincidindo com a presença de uma cepa ultracontagiosa. Isto era previsível. Por isso, o tempo todo fui contra o retorno às aulas sem as crianças receberem pelo menos duas doses e contra o levantamento de medidas restritivas da forma que foi feita nos grandes centros. O resultado de tudo isso era mais que previsível e está aí no nosso quintal.
O quadro clínico que venho acompanhando – em mim, nas pessoas próximas e nos pacientes – é indistinguível da gripe clássica. Não fosse o meu teste positivo, eu seria incapaz de distingui-la do Influenza, o que mostra apenas que os alvos deste vírus são os mesmo do Influenza e outros, como o Parainfluenza, Adenovírus, e alguns Rinovírus como cepas mais antigas de Coronavírus. Hoje estou no quarto dia de sintomas, no momento com dor na garganta, tosse produtiva, congestão nasal e coriza, e algum cansaço. Basicamente o que venho vendo nas outras pessoas, independentemente da idade e comorbidades. Repouso, hidratação e boa alimentação são fundamentais para todas e todos.
Uma paciente que no momento está infectada, exatamente no meio de um programa de quimioterapia me perguntou: teremos 5a. dose? Eu respondi: a senhora está com ela no sangue, no momento. Sim, esta infecção será equivalente a uma 5a dose, desta vez atualizada para a nova versão do vírus, o que deve dar uns 6 meses de “refresco” para quem se infectou.
A Moderna anunciou o desenvolvimento de nova versão de vacina atualizada para a variante Ômicron. Parece-me a única por enquanto que reformulará o seu produto totalmente. Outros fabricantes estão (por enquanto) atualizando para variantes anteriores à Ômicron, o que não significa que serão ruins, mas penso, salvo melhor juízo e informação, que está havendo uma certa lentidão nesse processo, ou pelo menos, na divulgação das ideias.
Creio que pouca gente escapará desta vez. O fogo está muito alto. Cuidem-se, sorte e saúde para todas e todos.
Nelson Nisenbaum é médico graduado pela Santa Casa de São Paulo, especialista em Clínica Médica e chefe do Centro de Referência de Especialidades do Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.