Nota fria

Por Virgílio Almansur

A Constituição Federal identifica muito bem o que vem a ser força. Forças armadas são armadas. Constituem-se como forças de combate e de defesa; não representam poder. A lei complementar CF/LC97/1999, proibe, terminantemente, que seus membros se manifestem politicamente. Desnecessário acrescentar, que estão impedidas de ataques aos poderes constituídos, subjugá-los, afrontá-los, desafiá-los ou intimidá-los.

O perfil indigente da nota do medíocre ministro da defesa, cujo ministério deveria ser ocupado por um civil, atenta contra tudo: conceitos estabelecidos, formalidades requeridas, noções básicas do que venha a ser credibilidade, território, nação, governo, povo e sociedade, além de ataque ao vernáculo — numa clara demonstração que se desconhecem os dispositivos constitucionais que balisam nossa gente.

Num país acostumado às restrições educacionais, onde atestamos a existência de fraudes que acompanham os pretensos saberes tão equivocados quanto os solipsismos generalizados, as traficâncias inconsequentes de fundamentos ou o estelionato intelectual, tão comum no meio judiciário — a outra casta de vilipendiadores como essa fardada que mais parece facção —, a nota nos remete ao vazio dessa existência nefanda que tomou-nos de assalto, um quase exercício de golpe continuado com nuances de bastidores milicianos e perfil gangsterista.

A estética dessa gente é tão decadente (muito se aproxima das cornucópias contemporâneas que abundam em mistificações da racionalidade humana, gerando inconsequências ruidosas), que pouco distam das facções criminosas, das denominações mafiosas e maviosas que grassam pelos escaninhos do poder insinuando-se entre e como partidos, agredindo o que nos resta de decência.

À sorrelfa e escrita por algum estagiário de coturno vagabundo, a notinha indica um mês de atraso, emite verborragia vazia, própria das hipérboles chinfrins dessa gente que não sabe o lugar que lhe cabe.

Ao contaminar o governo com quadros de todas as camadas hierárquicas, todos os militares, indistintamente, se tornaram contaminados — e hoje estão associados ao desastre sanitário que ajudaram criar sob criatura advinda de suas fileiras podres e ainda a comandá-los. Não por acaso, o que mais se ouve é o trânsito suspeito de coronéis, da ativa ou não, generais e quetais, num ministério que pareceu atrair os mesmos de sempre: aqueles voltados a ir e vir com pires nas mãos e fazer render as estrelas propínicas que ilustraram o período ditatorial, explícito e recente. Geraram o monstro da arruaça e se veem como freiras?

Até para quem nunca acreditou que a ditadura militar pudesse ser desonrosa e infame, nela a corrupção grassou; a fantasia de que havia dado cabo à corrupção, traz hoje cabos, sargentos, tenentes, coronéis e generais em estarrecedoras notícias sobre superfaturamentos de vacinas e insumos médicos, tráfico de influência e toda a sorte de crimes cometidos, secundados por cabos e sargentos e outras patentes de várias polícias militares.

É necessário contundência e firmeza para repelir o incauto, quando insiste em reproduzir um espírito autoritário cujo DNA é o do terror ustraiano. Saibamos que essa corja carrega, pelo herói que homenageia, brilhante ustra, um mais e muito além do perfil truculento que revigora corpos e mentes hoje devotos. Carrega desprezo pela vida!

 

Virgilio Almansur é médico, advogado e escritor.

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