Por Simão Zygband
Confesso que tenho dificuldades de entender a modernidade. E mais ainda este novo mundo que se construiu na vida paralela, que não é nada espírita, nem kardecista, mas que funciona com alma própria e com suas características diferenciadas.
Refiro-me ao mundo virtual, as tais das redes sociais.
Minha profissão sempre foi voltada para as comunicações. Sou jornalista, mas a primeira vez que pisei em uma redação, os jornais ainda eram impressos no chumbo, reescritos em um sistema chamado de linotipia (onde se faziam as letrinhas em chumbo) e depois as moldavam em uma placa de chumbo (chamada calandra) que eram encaixadas em rotativas circulares para imprimir os jornais. É duro até de explicar.
Perto de 40 anos se passaram deste início de carreira e tudo rapidamente foi se transformando. A informatização foi chegando a passos acelerados, foram aposentadas as máquinas de escrever e todo este método artesanal de fazer jornais e revistas. Também os rádios e TVs, onde também trabalhei, rapidamente se modernizaram.
Bem, é curso da história, que não pode ser detido. Gosto das coisas de antigamente e procuro me antenar com estas questões do futuro. Tento me aprimorar, para também não me tornar um “dinossauro” ou um obsoleto. Não tem sido tarefa fácil.
Mas, o que me impressiona depois de tantos anos de janela, de ter feito todo tipo de comunicação, desde editar jornais, fazer programas televisivos e até campanhas eleitorais (impressas e nas mídias eletrônicas) é como mudou o enfoque dos conteúdos.
Hoje vivenciamos o avesso do avesso. Pensar que um elemento como o genocida que ocupa a presidência da República foi alçado ao mais alto cargo do país através da infâmia e difamação (de dizer que iria “metralhar” a petezada no horário eleitoral) é que me deixa extremamente abismado.
Subiu ao poder um personagem que pregou a tortura, que enaltecia o mais sanguinário torturador da ditadura militar, o coronel Alberto Brilhante Ustra, cuja principal proeza foi pendurar seus adversários de ponta-cabeça no pau de arara, ligar fios elétricos para dar choques nos órgãos genitais dos presos sob a responsabilidade do Estado e colocar ratos nas vaginas das presas políticas, para que eles as corroessem internamente.
A família do ocupante da principal cadeira no Palácio do Planalto chegou ao cúmulo de fazer camisetas com o rosto do torturador Brilhante Ustra estampado no peito e desfilar impunemente pelo Congresso Nacional, como se a tortura ou a apologia dela não fosse crime passível de prisão e, em alguns casos, inafiançável.
Como milhões de brasileiros que votaram numa proposta como esta de governo se permitiram chegar a tão baixo patamar de humanidade? Que povo é este que se permitiu induzir por tão tresloucada ação de mídia, responsabilizando as redes sociais (e obviamente as convencionais, os grandes grupos de comunicação) para eleição de um ser tão desqualificado, tido como um psicopata e insensível com os sentimentos humanos?
Há quem diga que as eleições de 2022 serão definidas nas redes sociais, na base do Tic Toc e da audiência construída na internet, onde não se deve nem falar o nome do nefasto para não dar “ibope” para ele e para as suas pataquadas. Confesso que ainda estou tentando aprender muito sobre o que pode e o que não pode dar likes ou tecer comentários no facebook, internet, twitter ou outras novas mídias sociais. Como podemos colaborar para colocar este monstro para correr?
Será que o nosso candidato, o Luiz Inácio Lula da Silva, vai ter que rebolar para conseguir audiência e agradar ao novo público da internet, que aparentemente não entende outra linguagem?
Eu temo que sim.