Nós, nosso planeta e a sobrevivência de todos

Por Beatriz Herkenhoff

Milhares de espécies vegetais e animais estão desaparecendo a cada ano. Populações pobres são afetadas pela fome e pelo não acesso à água. Matas e reservas florestais são destruídas pelas queimadas. Os indígenas, guardiões das florestas, têm suas terras ameaçadas.
As mudanças climáticas têm consequências ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas com impacto sobre os mais pobres.

Existe uma verdadeira “dívida ecológica”, sobretudo do Norte em relação ao Sul do mundo. As perdas e os danos são irreversíveis quando exploramos o solo, as plantas, os animais e os minerais visando o lucro. Quando contaminamos as águas, o solo e o ar.

Por que esses acontecimentos que colocam em risco o futuro da humanidade e de nossas crianças não nos sensibilizam? Por que negamos essa realidade? O universo chora pedindo ajuda e nós ficamos indiferentes.

O #PapaFrancisco nos exorta a “transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece no mundo”. Que possamos romper a bolha que nos aprisiona ao nosso egocentrismo. Essa é a única forma de nos comprometermos efetivamente com as causas ecológicas.

As Encíclicas do Papa Francisco #LaudatoSi (2015) e #FratelliTutti (2020) colocam o dedo nessas feridas. Despertam para o cuidado com a Casa Comum e todas as criaturas que nela habitam.

Todo mês de setembro celebramos o #TempodaCriação em unidade com os cristãos e não cristãos espalhados pelos seis continentes. Temos a oportunidade de pensar sobre a construção de novas formas de viver e conviver com a criação e restaurar nosso planeta.

Na Encíclica Laudato Si (cap. 4) o Papa Francisco propõe uma ecologia integral. Essa perspectiva considera que as dimensões humanas, sociais e ambientais são indissolúveis.

Ao falar do amor de Deus por suas criaturas,  o religioso afirma que nossa missão é proteger a terra, não dominá-la. No entanto, agimos pela lógica do lucro, desconsiderando os limites do nosso planeta. Não queremos enxergar que os nossos hábitos de consumo (de energia e bens) afetam a capacidade da terra para curar a si mesma.

A Laudato Si nos convida para uma conversão ecológica. Uma mudança nos estilos de vida, que também abre à possibilidade de “exercer uma pressão salutar sobre quantos detêm o poder político, económico e social”.

A educação ambiental também é uma proposta central, pois, é capaz de gerar mudanças de hábitos em vários aspectos, como: na redução do consumo de água, de gastos com energia, na coleta seletiva do lixo entre outros. A ecologia integral quebra a lógica da violência, da exploração e do egoísmo. Uma ecologia integral, vivida com alegria, possibilita a beleza e a responsabilidade de um compromisso para o “cuidado da casa comum” (Laudato Si).

#SãoFranciscodeAssis é um exemplo a ser seguido nesse processo. Ele falava a língua do amor ao conversar com as plantas, com os animais e outros seres vivos. Ao viver a pobreza em sua radicalidade.

Ao mudar nossos gestos e atitudes temos que seguir os passos de Francisco. Aproximarmos da natureza e do meio ambiente com abertura para a admiração, a contemplação e o encantamento. Caso contrário, as nossas atitudes serão sempre as do dominador, do consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais. Se nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe, então brotarão a empatia, a solidariedade e o compromisso.

Nesta perspectiva, o Papa Francisco propõe (cap. 5) empreender em todos os níveis da vida social, econômica e política um diálogo honesto, que estruture processos de decisão transparentes. Nenhum projeto (cap. 6) pode ser eficaz se não for animado por uma consciência responsável. Temos que crescer nesta direção em nível educativo, espiritual, eclesial, político e teológico.

Com o objetivo de abrirmos novos horizontes sobre essa temática, solicitei que minha amiga Maria José Roque falasse da sua experiência com o cuidado da Casa Comum. Ela é membro da #PastoraldaEcologiaIntegral, da rede PAZ E PÃO e do grupo Fraternidade e Vida da paróquia nossa Senhora do Perpétuo Socorro na Praia da Costa, Vila Velha, ES. É voluntária do #InstitutoMOVIVE e participa também como animadora do grupo internacional Viva Laudato Si, ligado ao Papa Francisco.

Zezé está sempre nos convidando a um engajamento mais efetivo na perspectiva da ecologia integral. Ela conta que sua conversão ecológica começou há 25 anos através da evangelização com os Franciscanos. Principalmente, com frei Atílio preocupado com a natureza e com os gastos com energia.

As campanhas da Fraternidade (com temas sobre a água, a poluição, os indígenas, a Amazônia) despertaram para o compromisso ecológico. #AfonsoMurad (ecoteólogo) deu uma palestra e tocou profundamente. A partir daí, Zezé, com suas companheiras Rita Zille, Dora Neves, Fátima Guerra, Elza Ribeiro, Taisy, Waleska, Beatriz Carneiro, Lygia, Isabel Carpi, Zezé Barroso, Rosangêla e Ana Viana fundaram o grupo Fraternidade e Vida.

Realizaram inúmeros trabalhos de conscientização sobre a coleta seletiva; recolhimento de latinhas para os catadores; conscientização sobre os alimentos orgânicos (a feira orgânica de Vila Velha cresceu muito com esse trabalho). Participaram também, com o Movive, de conscientizações nas escolas, despertando para o cuidado com a restinga e a coleta seletiva.

No período de escassez da água, convocaram mais de 60 síndicos que construíram uma rede visando economizar água.
Ao participarem da Campanha Paz e Pão, socorrem quase 10 mil famílias com alimentos. Apoiam também a cozinha solidária da paróquia madre Teresa de Calcutá que distribui refeições para pessoas em situação de rua.

Estão comprometidas com a Rede Urbana Capixaba de Agroecologia (Ruca) que assessora o plantio em espaços abandonados em regiões periféricas. As famílias plantam e colhem o próprio alimento, incluindo plantas medicinais, tendo como consequência a melhora da saúde da população local.

O Grupo Fraternidade e Vida assinou compromisso Laudato Si e todo ano realizam uma ação no Tempo da Criação. Em 2020, fizemos a Campanha Lixo que Vira Pão, com vídeos testemunhais, que tiveram impactos efetivos. A qualidade dos resíduos que saem do condomínio melhorou muito. Esse ano (2021) a campanha é de dicas de sustentabilidade.

Que esse depoimento lindo de Zezé e de suas amigas do grupo Fraternidade e Vida nos tire do comodismo. E que as palavras proferidas pela primeira ministra de Barbados Mia Amor Mottley, na Assembleia Geral da Onu (2021) invadam o nosso coração e transformem nossa postura diante da Casa Comum e dos seres viventes que nela habitam:

“Quem se levantará em nome de todos aqueles que morreram por causa da crise climática?”

“Temos os meios para investir na proteção dos mais vulneráveis em nosso planeta contra uma mudança no clima. Mas, optamos por não fazê-lo. Não é porque não temos o suficiente, é porque não temos a vontade de distribuir o que temos.”

“Quantos aumentos globais de temperatura devem ocorrer antes de acabarmos com a queima de combustíveis fósseis?”

“Se conseguimos encontrar vontade de enviar pessoas à lua, poderemos resolver problemas simples como deixar nosso povo comer a preços acessíveis.”

Imagem: Reprodução

 

Beatriz Herkenhoff é doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo).

Contribuição para o Construir Resistência ->

Resposta de 0

  1. Quanta honra ser citada nesta linda crônica! Na certa, muitos corações serão tocados para a conversão ecológica! É hora de salvar nosso planeta!

  2. Quanta honra ser citada nesta linda crônica! Na certa, muitos corações serão tocados para a conversão ecológica! É hora de salvar nosso planeta!

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