Por Elias Pereira
Após longas férias forçadas para a pirotecnia contábil da firma, eis que me reapresento para o exercício que menos enriquece os pobres deste país: o trabalho.
As longas caminhadas pelos campos do cerrado e os mergulhos em suas águas calientes abriram-me ainda mais os olhos, a mente e os ouvidos para os perigos que ameaçaram nossas liberdades. Entretanto ao retornar ao nobre oficio meu aparelho celular entrou em pane e eu fui forçado a adentrar um templo onde deuses e semideuses do capital rezam enquanto conferem as verdinhas. Mas ai um contumaz consumidor amigo meu advertiu:
_As LASA estão para fechar as portas.
Fiquei cabreiro e por via das na dúvidas resolvi baixar em outro templo que me acolheu e me ofereceu um pacote com as garantias estendidas.
Mas meus olhos não desgrudaram daquele enigmático quadro que hoje adorna uma das paredes do meu humilde escritório – na verdade o quadro entraria nos objetos penhorados pela firma, mas ai um xará primo meu entrou com uma modica quantia que arrefeceu a sanha do diretor de patrimônio da firma.
De patrimônio mesmo, meu preclaro editor, quem entende é o Lemaunn, que ao que parece já nasceu carimbado e não precisou de ciganas, macumbeiros, xamãs, pastores e outros adivinhos.
Seu domínio se estende sobre a cerveja que você bebe, o molho que avermelha o macarrão de domingo, as guloseimas que as crianças consomem e avolumam suas barrigas, os chinelos que mal protegem os dedões dos pés dos marmanjos, as sandálias que adornam os belos pés das garotas bronzeadas. Nos bombons que adoçam os sonhos enamorados, na comida transportada nas costas dos sem almoço.
Pense em algum produto para o seu lar, para sua casa de campo ou sua vivenda na praia ou mesmo para cobrir um barraco nas margens das cidades e verá o dedo do Lemaunn. Vivemos em um país onde é muito difícil produzir casas para os sem teto, roupas para os desnudos, alimentos para os famintos mas tem uma facilidade incrível de produzir milionários.
Ainda no auge da pandemia quando as intempéries eram duríssimas nós produzíamos nababos às custas do parco auxílio aos necessitados. Sou capaz de apostar e ganhar que até mesmo na desgraça que se abate sobre nossos ancestrais tem o dedo ou talvez a mão toda do ilustre semideus do capital.
Elias Pereira é músico e escritor