Por Simão Zygband
Enquanto Bolsonaro paga r$ 1.800 o quilo da picanha para fazer um churrasco, povo enfrenta fila para conseguir carcaça de boi
Semana passada, um fato chamou a atenção: moradores de Cuiabá, capital de Mato Grosso, o estado com o maior rebanho bovino do país (com cerca de 32 milhões de cabeças de gado), fizeram fila de até duas horas para conseguir ossos em um açougue que doa restos do processo de desossa do boi.
Os donos do estabelecimento informaram que há mais de dez anos realizam as doações para moradores sem renda da região, mas a fila aumentou nos últimos tempos. Açougues da região, que vendem o produto, cobram até R$ 10 o quilo. É o retrato dramático, consequência do desgoverno do genocida Jair Bolsonaro, que chegou a pagar r$ 1.800 o quilo da picanha fazer um churrasco.
Estudo divulgado pelo movimento Food for Justice, em abril deste ano, aponta que seis em cada 10 domicílios brasileiros passaram por uma situação de insegurança alimentar entre agosto e dezembro de 2020. São 125 milhões de brasileiros que acordavam sem saber se teriam como se alimentar adequadamente.
Estudo foi feito pela Universidade Livre de Berlim em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ouviu duas mil pessoas entre novembro e dezembro do ano passado. A conclusão foi de que a insegurança alimentar, que atingia 36,7% dos brasileiros em 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alastrou no país no ano passado.
De acordo com a pesquisa, 59,4% dos brasileiros estavam em insegurança alimentar no fim de 2020, e 15% enfrentavam insegurança alimentar grave. Essa situação era mais comum em domicílios chefiados por pessoas pretas (66,8%) e por mulheres (73,8%); que têm crianças de até quatro anos (70,6%); e uma renda per capita mensal de até R$ 500 (71,4%). A insegurança alimentar também é mais frequente nos domicílios situados em áreas rurais (75,2%).
Redução da miséria
Após 11 anos de redução continuada da pobreza nos governos do PT de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, 85 milhões de brasileiros (os 40% mais pobres) tiveram perdas contínuas na renda nos últimos cinco anos, segundo estudo do Banco Mundial. Os dados mostram que, entre 2003 e 2014, o Brasil viveu uma fase de avanço econômico e social, com cerca de 25 milhões de pessoas deixando a pobreza e um aumento significativo da renda dos mais pobres. Porém, a partir de 2014, essa parcela da população tem sofrido perda constante em sua renda, ano a ano. Com isso, a desigualdade, que tinha chegado ao menor patamar da história em 2015, também voltou a subir.
Segundo o Banco Mundial, a parcela da população em situação de extrema pobreza no país era de 13,6% em 2001, caindo para 4,9% em 2013. Enquanto a renda média dos brasileiros, no geral, cresceu 4,4% entre 2003 e 2014, a renda dos 40% mais pobres cresceu 7,1%.
Vulneráveis
Entre 2014 e 2019, a renda dos 40% mais pobres caiu, em média, 1,4% ao ano. Enquanto a renda média dos brasileiros cresceu 0,3% ao ano no mesmo período. Conforme o estudo, se os ganhos tivessem sido distribuídos igualmente entre a população, este ano teríamos 13 milhões de brasileiros a menos vivendo em pobreza (renda de R$ 499 ao mês) e 9 milhões a menos na pobreza extrema (renda de até R$ 178 por mês).
A situação de aumento da pobreza no Brasil também é considerada o pior resultado da América Latina nos últimos cinco anos, segundo o Banco Mundial. Embora todos os países tenham sofrido crises econômicas desde 2011, o Brasil foi um dos únicos que teve piora em todos os índices. Honduras e Equador tiveram aumento de desigualdade. Argentina e Equador observaram aumento da pobreza. E Argentina, Equador e Honduras tiveram aumento da pobreza extrema