Por Luiz Otavio Barreto
O nome da brasileira Nise Magalhães da Silveira figura entre os grandes da medicina psiquiátrica. Dra. Nise contribuiu muito significativamente quando implementou novas teorias, condutas e práticas no tratamento das doenças psiquiátricas. Sua técnica, revolucionária, a fez ser reconhecida mundialmente e, portanto, servir como referência dentro do meio e fora dele. A título de importante informação, Dra. Nise da Silveira foi aluna de Carl Jung.
A revolução promovida pela médica combatia, principalmente, os tradicionais métodos de ‘tratamento’ dispensado aos doentes: eletrochoques, confinamentos, internações em manicômios. Aliás, você já esteve em um manicômio? A terapêutica defendida por Nise inclui arte e a tutoria de animais de estimação, o que se revelou muito eficiente. Dra. Nise também aparece na luta antimanicomial. A médica, infelizmente, morreu antes da promulgação da lei que punha fim aos manicômios, em 1999.
Os feitos, os benefícios, a vida da médica, sua memória e testemunho em prol da dignidade da pessoa humana estão marcados na história. E, a despeito de quaisquer registros ou reconhecimentos, sua função foi cumprida com brilhantismo e paixão.
Dito isto, hoje, 25 de maio de 22, saiu a notícia de que Jair Bolsonaro, o execrável genocida que preside este país, vetou a inscrição do nome da médica no livro de heróis e heroínas da pátria. O mesmo Jair Bolsonaro que, em 2017, ainda como imprestabilíssimo deputado federal, propôs, através de um projeto de lei, a inscrição do nome de um político, não tão brilhante como se autoproclamava, histriônico, preconceituoso e bastante verborrágico, seja ele, Enéas Carneiro.
Conquanto desconheça as obras de Enéas, salvo um livro bastante famoso na escola de cardiologia, não penso que faça frente àquela monumental, da Dra. Nise. E que fique claro que não há competição e nem houve. Só registrei a título de exemplificar as prioridades de Bolsonaro, o cretino.
O argumento de Bolsonaro para o veto da inscrição do nome da psiquiatra no tal livro de heróis e heroínas da pátria eh este: “a envergadura dos feitos da médica Nise Magalhães da Silveira e o impacto destes no desenvolvimento da Nação”. (…) “Ademais, prioriza-se que personalidades da história do País sejam homenageadas em âmbito nacional, desde que a homenagem não seja inspirada por ideais dissonantes das projeções do Estado Democrático” (…) porque, no fim das contas, não é possível avaliar.
Para concluir, é como disse: maior e melhor registro que a memória, não há! Para o bem ou para mal. O nome de Nise figurará, sempre, no lado nobre, nas grandezas, nos rumos da evolução. Já o daquele que exaltou o maldito general torturador, o do genocida, o do desgraçado… a história não perdoa. A memória, muito menos.
Luiz Otavio Barreto é músico pianista e professor de língua portuguesa