Não se deve passar pano para o genocídio

Por Simão Zygband

Gostei muito de uma análise que vi neste labirinto de informações que se transformou a internet de que, ao não qualificar Jair Bolsonaro como um genocida, como queria o relator da CPI, Renan Calheiros, no fundo ele estava dando uma demonstração de força no Congresso, onde todos os caminhos da política, pelo bem ou pelo mal, acontecem.

Isso demonstra que Bolsonaro tem musculatura suficiente nos intestinos do poder para não sofrer um impeachment, como aconteceu com a ex-presidenta Dilma Rousseff, cujo instrumento “institucional” foi utilizado para se realizar em um golpe de estado.

Bolsonaro tem muitos mais motivos para ser desalojado do poder do que a ex-presidenta Dilma. Claro que contra ela pesou não apenas um machismo exacerbado, como também a articulação de podres poderes, que se uniram para não apenas desestabilizar um governo legítimo, como para efetuar uma perseguição sem fim aos petistas. Isso rendeu 580 dias de prisão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas, no caso de Bolsonaro, as elites que condizem parte da política brasileira, seguem titubeantes, não sabendo exatamente o que fazer com a sua cria, o bebê-diabo do fascismo. Por isso, se apressaram em defender que o capitão reformado não seja considerado um genocida, apesar das mais de 603 mil mortes que pesam sobre suas costas e levam a assinatura de um genocídio.

Passar o pano para as mais de 600 mil famílias enlutadas, vítimas mais do que evidentes de uma política deliberada de extermínio, com o descompasso na aquisição de vacinas e nas fraudulenta imposição de um medicamento ineficaz no combate à pandemia de Covid-19, é o sintomas mais grave de que os gestores de Bolsonaro pretendem mantê-lo com alguma reserva moral para que, em alguma casualidade, possa ser ele a enfrentar a forte candidatura do ex-presidente Lula. Em caso de emergência, quebre o vidro.

O poder econômico e a oligarquia, que historicamente conduzem a política no Brasil, não querem se desfazer de Bolsonaro e sim mantê-lo vivo (sangrando, é verdade), para poder ressuscitá-lo em caso de emergência, por não conseguirem articular uma terceira via (que, a cada dia, parece mais distante). É como diz o ditado popular, no caso das eleições de 2022: “se não tem tu, vai tu mesmo”.

Foi com esta máxima que o país foi jogado nas mãos do bolsonarismo e se afunda dia a dia na mais trágica treva desde o famigerado regime militar. Bolsonaro não é só um genocida na questão das vacinas. É também na implementação de uma política econômica cruel, que massacra a população mais pobre, que rouba direito dos trabalhadores, que faz com que milhões de brasileiros sejam obrigados a procurar o sustento na traseira de um caminhão de lixo ou nas gigantescas filas para conseguir um osso para fazer sopa, enquanto a corte gasta milhões em um passeio turístico a Dubai, ou o ministro da Economia, Paulo Guedes, fatura milhões com a desvalorização do dólar que ele mesmo mantém em paraísos fiscais.

Bolsonaro é genocida, sim!

 

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