Por Sonia Castro Lopes
O Palácio Capanema, antiga sede do Ministério de Educação no Rio de Janeiro, sofre ameaça de privatização. Um dos símbolos da arquitetura moderna no Brasil, o edifício foi concebido por Lúcio Costa que recebeu do ministro Gustavo Capanema em 1935 a incumbência de elaborar o projeto que recebeu a colaboração de Oscar Niemeyer, Jorge Machado Moreira e Afonso Eduardo Reidy, entre outros. A equipe contou ainda com a consultoria de Le Corbusier, mestre da arquitetura moderna internacionalmente conhecido, que esteve no Brasil em 1937 a convite do próprio ministro Capanema.
O projeto de construção do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde Pública, depois conhecido como Palácio da Cultura, significou colocar em prática um projeto que expressou a aliança entre os ideais do modernismo com a obra educacional e cultural do ministro que esteve à frente daquela pasta entre 1934 e 1945. Vejam, portanto, o apreço que um governo, notadamente autoritário, tinha pela educação e pela cultura. Getúlio Vargas se cercou de intelectuais de primeira grandeza que muitas vezes não compartilhavam das orientações político-ideológicas do regime. Contudo, a crença na força da arte e da cultura, sob uma perspectiva humanista, foi a forma encontrada para estreitar o convívio entre os intelectuais e o poder em pleno Estado Novo varguista.
Nem mesmo a odiosa ditadura civil-militar que se instalou no país entre 1964 e 1985 demonstrou tanto desrespeito pela cultura, ainda que possamos fazer inúmeras críticas à politica educacional dessa época que, como já demonstramos em vários artigos, foi a responsável pelo sucateamento da educação pública, sem falar das prisões e torturas a que os opositores do regime foram submetidos. Toda ditadura é execrável, não resta a menor dúvida. Mas esse governo que se diz ‘democrático’ e que foi eleito pelo povo, consegue se superar em termos de ignorância e insensatez.
Desde ontem (13) circula a notícia de que o Palácio estaria entre os imóveis dos quais a União pretende se desfazer. Com jardins de Burle Marx, escultura de Bruno Giorgio e azulejos de Cândido Portinari, o antigo prédio do MEC é uma das jóias mais valiosas do patrimônio nacional. Premiado internacionalmente, o mundo se curvou diante do Brasil, pois o Palácio da Cultura é das obras mais citadas nos livros e manuais de arquitetura em todo o mundo.
O Palácio da Cultura é patrimônio arquitetônico do Brasil. Não pode ser vendido!
Segue abaixo a íntegra do manifesto “O MEC não pode ser vendido” assinado pela CAU Brasil, CAU/RJ, IAB/RJ, SARJ, ABEA, ABAP, AsBEA, FeNEA, SEAERJ, Docomomo e Fórum de Entidades em Defesa do patrimônio Brasileiro.
Veja a íntegra do Manifesto em:
https://www.caubr.gov.br/wp-content/uploads/2021/08/O-MEC-na%CC%83o-pode-ser-vendido.pdf
Conheça mais um pouco a história desse prédio monumental através do documentário realizado pela TV Alerj em 2013. Pesquisa, roteiro e apresentação da jornalista Fernanda Nogueira.
Bloco 1: https://www.youtube.com/watch?v=A0djDI03s7k
Bloco 2: https://www.youtube.com/watch?v=Zn5_9fJ-0Ks
Bloco 3: https://www.youtube.com/watch?v=t7JqbP3mAOs
Nota da autora
Para conhecer mais sobre a história do Palácio Capanema ver:
SCHWARTZMAN, S.; BOMENY, H. e COSTA, V. Tempos de Capanema. Rio de Janeiro: Paz e Terra/FGV, 2000.
CAVALCANTI, L. As preocupações do belo. Rio de Janeiro: Taurus editora, 1995.
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Um absurdo! Mais um deste desgoverno federal…
É preciso resistir! Não ao leilão do Palácio da Cultura.