Morrer

Por Luis Otavio Barreto

A morte é um pensamento muito recorrente. Não há um único dia em que eu não a dedique alguns instantes de atenção. E não pensem que há nisto um folclore, obsessão ou fantasia, como é comum nestes assuntos tão fundamentais. Penso nela porque gosto da ideia de morrer, acho necessário morrer e penso que há muita vida nisso. Montaigne, nos ensaios, nos diz: “meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade”.

Pensar na morte me mostra que estou vivo e me ensina a não temer a ‘indesejada das gentes’, como diz Bandeira. E por que eu a temeria, se pensar nela me torna menos cativo do medo, se me faz estudar e raciocinar e, logo, saber que ela não é um inimigo ao qual devo combater?! Quando eu penso, eu movo toda vida em mim e em meu entorno, então filosofo e aí caio na máxima antiga: Penso, logo existo. E se penso na morte, existo ao cubo, porque filosofo! A morte, diz Schopenhauer, é a musa da filosofia! Bixo, olha que barato?! A filosofia é a vida! Sócrates (o filósofo, gente, pelo amor de Deus, ein…) diz que filosofar é se preparar para morrer, a gente vai aprendendo, percebe?!

De modo algum pensem que cultuo a morte, não é isso! Mas eu a entendo. Quero, quando for necessário, ter serenidade para compreender os passamentos dos meus, isto é, sem os rasgos da dor de uma separação eterna, quero meditar sobre o tempo de cada um e compreender, em mais um novo aspecto, o papel da morte, naquela transferência de realidades.

De mim, não ensaio ou fantasio aquela ideia recorrente, das preocupações com o espetáculo fúnebre, mas o que penso é no face to face com aquele momento; ah, eu adoraria compreender as coisas que irei sem compreender e também adoraria a ignorância das tristezas, dos males, das dores e das coisas inúteis, assim, como quem vai se despindo das roupas encardidas, para entrar no banho…morrer me parece sair de um banho fresco, com as unhas cortadas, dentes escovados e cheiro de phebo odor de rosas…

gosto de pensar assim.

por fim, Bandeira;

CONSOADA

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
– Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

(referências sobre Bandeira, Heidegger, Montaigne, Sócrates e Schopenhauer, por msg.)

 

 

Luis Otavio Barreto é músico pianista e professor de Língua Portuguesa.

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