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MORO NUM PAÍS TROPICAL, ABENÇOADO POR DEUS (…) E FODIDO PELA DIREITA…

Por Luis Otavio Barreto

Muita gente talvez não entenda a gravidade de uma ação como essa; os discursos deste ato são tantos e de tantas ordens que, sinceramente, é de apavorar que o STF não tenha feito absolutamente nada de contundente. Pretendo não me alongar, mas peço paciência, pois vamos observar questões bastante preocupantes, a saber; a objetificação da mulher, a incoerência dos bastiões da moralidade e a reputação brasileira, em pequeno resumo.

Essa moça, na infelicidade da própria existência, não poderia ter escolhido pior forma de se manifestar; 1º porque é uma forma medíocre, incoerente com aquilo pelo que manifesta; 2º porque é uma manifestação burra, uma vez que fere os ideais de um governo que é pautado nos preceitos de pátria, família e propriedade, sem falar na fortíssima confissão religiosa, quase teocrática (tá, pero no mucho). 3º porque é uma terrível forma de se colocar e se exprimir dentro do conceito em questão; o político. Há que se registrar que num país conhecido por sua vocação machista, essa criatura que vai para cima do carro, seminua, pintada, ‘protestar’ contra o STF, coloca em o trabalho sério de muitas outras mulheres em situação mais prejudicada que já é, pela maldita cultura machista. E por mais castrador que possa parecer esse meu pensamento, não é! Porque é o tipo de coisa, de atitude, que não cabe num contexto como aquele! Não se trata do biquini, mas se trata do discurso. Ela se objetificou e o fez com todas as mulheres, a mensagem do discurso é que para que sejam ouvidas, as mulheres precisam arrancar as roupas e subirem num banco para que sejam vistas. PORRA! PUTA QUE PARIU, BIXO! Essa pobre diaba não desqualifica, mas atrasa o avanço do trabalho de uma quantidade imensa de mulheres, numa luta que é desigual, percebe?! A coisa ainda piora quando há um grupo de homens de meia idade, com celulares em posição, fotografando o triste e equivocado episódio. Aquilo vai virar conteúdo de grupos cuja a podridão é muitíssimo maior que toda a lama do fundo do Tietê. Sem contar que se tornará objeto das masturbações física e mental, e não duvidem disso.

O governo bolsonarista assumiu, desde a campanha, um discurso de tom confessional; religioso, em que valoriza os ideais da pátria, da família, da propriedade e da figura de um deus, aliás, a mesma figura adotada pelos pastores neopentecostais, um deus do velho testamento. E isso foi estratégico, para que levasse – e levou – os milhares de votos dos rebanhos de homens como Macedo, Malafaia, Soares e Santiago. UM HORROR! Sem contar com os católicos mais fundamentalistas, os protestantes e uma parte do segmento espírita, com o aceno cordial de nomes como Divaldo Franco.

É preciso dizer que não há um combate a essas doutrinas, cada um segue de acordo com a conveniência, mas, em hipótese alguma, haveremos de nos esquecer das incongruências entre o tom adotado pelo presidente e as mensagens do evangelho, que estas seguem, ou dizem seguir, ou, pelo menos, do evangelho genuíno, baseado na vida do Cristo. Não há e nem pode haver concordância entre os ideais cristãos e a fala tenebrosa de Jair Bolsonaro e, mais do que isso, o comportamento que ele pratica e incentiva.

Deixando de lado, ainda, os preceitos cristãos, não pode haver consonância do comportamento bolsonarista com as ideias de civilidade e progresso do homem moderno. Simplesmente porque a prática da filosofia bolsonarista é, tão somente, um atestado de completa e deslavada ignorância; ou por outra, de culto, de louvor a ignorância ululante, isto é, do orgulho da bestialidade própria. Sendo, portanto, um comportamento incoerente, se levarmos em consideração o pensamento de uma humanidade progressista.

A incoerência dos bolsonaristas é tão monumental, que absurdos como este, desta moça, ou dos muitos matrimônios do presidente, ou de seu discurso belicoso, ou do sempre raivoso Malafaia, ou do padre atirador, ou, ainda, da Damares Alves ou da Igreja Batista Atitude, da bancada evangélica, olha, é tudo tão surreal que é preciso que os que somos contra, nos ocupemos de deixar isto claro, porque o medo de passar por alguém daquelas ideias, é aterrador. Ser confundido com um bolsonarista é de causar arrepios, porque se tornou um sinônimo de caráter, e caráter ruim, dúbio.

De volta ao mapa da fome, 400 mil mortos pela doença, descaso do governo com a pandemia, o desprezo pela ciência, o despeito com a vacina, as mentiras, as falcatruas, as laranjas, as rachadas, os ataques dos filhos, sobretudo, do piroquetinha, a lava jato, olha, não é de se estranhar que o Brasil tenha se tornado pária e que estejamos proibidos de pisar no estrangeiro…

E segue o baile.

 

Luis Otávio Barreto é musico pianista e professor de Língua Portuguesa.

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