Por Simão Zygband
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O ministro da Economia, Paulo Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, são dois dos brasileiros que depositam fortunas em contas secretas no exterior. A desvalorização do dólar pode ter rendido mais de R$ 14 milhões ao principal ministro de Bolsonaro.
Neste final de semana explodiu um escândalo de proporções internacionais envolvendo alguns milionários brasileiros, entre eles, Paulo Guedes e Roberto Campos Neto. Nenhum dos dois havia divulgado suas operações offshore antes de assumir os cargos em que participariam da tomada de decisões sobre esse tipo de investimento. Este possível conflito de interesses afeta especialmente o Ministro da Economia, que lidera uma reforma tributária que, em sua versão atual, reduziu a pressão sobre o dinheiro das pessoas físicas em paraísos fiscais.
A Pandora Papers, vazamento de informações obtidas em paraísos fiscais pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), se baseia em 11,9 milhões de arquivos que reúnem o trabalho de 14 assessorias para offshores. Esta massa de informação foi revista e verificada por uma equipe de 600 jornalistas, envolvendo os jornais El País, The Washington Post, The Guardian, BBC e diversos outros veículos de todo o mundo.
Segundo o jornal El Pais, que compõem o consócio, o ministro Paulo Guedes aparece como acionista da empresa Dreadnoughts International Group, registrada nas Ilhas Virgens Britânicas. Trata-se de uma shelf company, como são conhecidas no jargão financeiro: empresas fundadas em paraísos fiscais. Os documentos mostram que o ministro do governo Jair Bolsonaro, tinha em 2014 pelo menos oito milhões de dólares (43,3 milhões de reais, pelo câmbio atual) investidos na Dreadnoughts International Group, registrada em seu nome e nos de sua esposa, Maria Cristina Bolívar Drumond Guedes, e da filha, Paula Drumond Guedes.
O Ministério da Economia, em resposta à investigação, encaminhou uma nota em que afirma que essas atividades “foram devidamente declaradas ao órgão tributário e demais órgãos competentes”.
Já presidente do Banco Central, Campos Neto, é dono de quatro empresas. Duas delas, Cor Assets e ROCN Limited, são registradas no Panamá em sociedade com sua esposa, a advogada Adriana Buccolo de Oliveira Campos. O objetivo declarado das empresas é investir nos ativos financeiros do Santander Private Bank, cujo conselho executivo Campos Neto integrou no passado. As outras offshores são Peacock Asset Ltda, gerida pelo banco Goldman Sachs, e que foi descoberta na investigação do Bahamas Leaks, de 2016. A quarta empresa é a Darling Group, que segundo o Banco Central informou em nota, é uma empresa de “gestão de bens imóveis”. Assim como Guedes, o presidente do Banco Central afirma que declarou todo o seu dinheiro no exterior à Comissão de Ética da Presidência da República, bem como ao fisco e ao próprio Banco Central. Ele também reforça que construiu seu “patrimônio com as receitas obtidas em 22 anos de atuação no mercado financeiro”.
Uma postagem de facebook esclarece como Paulo Guedes lucrou com suas aplicações em paraísos fiscais desde que virou ministro de Jair Bolsonaro: “Devido à alta de 39% da taxa de câmbio desde que virou ministro, os US$ 9,55 milhões de Guedes e sua família, guardados em paraísos fiscais, tiveram uma valorização estupenda em reais: um ganho de R$ 14,5 milhões a mais do que antes dele assumir o cargo”. Isso significa dizer que Guedes lucra R$ 14 mil reais ao dia com a desvalorização do dólar.
Bem diferente daqueles penalizados pela política econômica de Guedes e Bolsonaro, que buscam restos de ossos e pés de galinha para se alimentar.
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Vergonhoso.