Compartilhado do Quarentena News
Por Jorge Antonio Barros
Mais um crime choca o Rio de Janeiro, dessa vez envolvendo três militares da Marinha do Brasil, força que este ano completa 200 anos de fundação. Os militares e o dono de um ferro-velho foram presos acusados de sequestrar, matar e ocultar o corpo do policial civil Renato Couto de Mendonça, de 41 anos. Após participar do crime, um dos militares, provavelmente arrependido, confessou tudo. O corpo do policial civil foi encontrado às margens do Rio Guandu, com marcas de dois disparos. O laudo cadavérico concluiu que ele morreu por asfixia, provavelmente afogado, ao ser jogado no Rio, ainda vivo.
O caso aconteceu depois que Renato Couto, armado de pistola, foi tomar satisfação com Lourival Ferreira de Lima, dono de um ferro-velho na Mangueira, onde o agente havia localizado material de obra dele que fora furtado e vendido para o ferro-velho. Depois de ameaçado por Renato, Lourival disse que ia restituir o prejuízo e deu apenas um telefonema. Do outro lado da linha atendeu o filho dele, o sargento da Marinha Bruno Santos de Lima, que era chefe do setor de transportes do 1º Distrito Naval, na Praça Mauá, Centro do Rio. Bruno reuniu dois colegas de farda: o terceiro-sargento Manoel Vitor Silva Soares e o cabo Daris Fidelis Motta. Com um carro oficial da Marinha, descaracterizado, o trio partiu para o ferro-velho, onde estava o policial civil. A reação foi violenta. O policial civil levou uma “gravata” e foi obrigado a embarcar na viatura, onde foi baleado e supostamente morto. Seu corpo foi jogado no Rio da Guandu.
Felizmente a ação dos militares, à luz do dia, foi testemunhada por pessoas que acionaram o 190, mas a PM não conseguiu impedir o sequestro e a execução do policial civil. Por pouco, a vítima não teria se tornado mais um desaparecido na conta de militares da Marinha, como ocorreu durante a ditadura. Como se sabe, o presidente Bolsonaro – ardoroso defensor do golpe militar e da tortura praticada no período – conta com apoio maciço nos quartéis das Forças Armadas. Os mesmos militares que muito cidadão acredita ingenuamente que sejam capazes de enfrentar os criminosos comuns. Pois qualquer especialista sabe que militares não têm essa competência.
MARINHA REPUDIA CRIME
A Marinha A Marinha do Brasil (MB) informou que tomou conhecimento, na noite de sábado (14/05), sobre uma ocorrência, com vítima, envolvendo militares da ativa do Comando do 1º Distrito Naval, objeto de inquérito policial no âmbito da Justiça comum. “Os militares envolvidos foram presos em flagrante pela polícia e responderão pelos seus atos perante a Justiça”, informou a nota.
“A MB lamenta o ocorrido, se solidariza com os familiares da vítima e reitera seu firme repúdio a condutas e atos ilegais que atentem contra a vida, a honra e os princípios militares.”
“A MB reforça, ainda, que não tolera tal comportamento, que está colaborando com os órgãos responsáveis pela investigação e informa que abriu um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias da ocorrência”, emendou.
O CENIMAR E A DITADURA
Apesar do posicionamento rápido, a Marinha tem um histórico de ações violentas, como a da repressão à Revolta da Chibata, em 1910, quando houve grande motim organizado pelos soldados da Marinha brasileira. A revolta organizada pelos marinheiros foi motivada, principalmente, pela insatisfação dos marinheiros com os castigos físicos e maus tratos nas embarcações.
O caso dos militares envolvidos com o ferro-velho comprova que a Marinha e as Forças Armadas necessitam promover uma autocrítica com relação aos crimes praticados nos quartéis e presídios durante a ditadura militar. A impunidade desses crimes sempre volta como um fantasma para aterrorizar a sociedade brasileira.
A Marinha manteve naquela época o Cenimar (Centro de Informações da Marinha), um órgão de inteligência e de repressão, que esteve no furacão das denúncias de violações de direitos humanos, naquele período. A Marinha tinha um presídio na Base Naval da Ilha das Flores, onde muito preso político foi interrogado e barbaramente torturado.
Para piorar a situação, a Marinha ocultou mortes ocorridas na ditadura, como descobriu a Comissão da Verdade, em 2013. Em 12.000 páginas, o Centro de Informações da Marinha (Cenimar) mostra em detalhes informações sobre as mortes de 11 pessoas no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e na Guerrilha do Araguaia. Mas a Marinha negou que tivesse essas informações, quando recebeu solicitação do então presidente Itamar Franco, em 1993.
Apesar de ter repudiado o crime do ferro-velho, a Marinha também precisa repudiar os crimes praticados pelas Forças Armadas durante a ditadura. A conivência com esses crimes é que ainda hoje deixa a sociedade brasileira refém dos militares.
No Caso do Ferro-Velho, os militares poderão ser expulsos da Marinha se forem condenados a uma pena igual ou superior a dois anos de prisão. Mesmo que sejam expulsos, seus familiares vão continuar recebendo pensão da Marinha.
Foto
Usando coletes à prova de bala e capacetes, militares da Marinha se apresentam na polícia
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Jorge Antonio Barros é jornalista e editor do Blog Quarentena News