Miami and Papuda

Texto e foto por Luiz Hespanha

Impossível encontrar alguém de esquerda que não cultive uma paixão por Cuba. Da foto mítica do Che feita pelo Alberto Korda à qualidade da saúde, à dignidade do povo cubano, sobra motivo para amar Cuba. Confesso que as fotos de Habana Vieja, as vozes de Compay Segundo, Ibrahin Ferrer e Omara Portuondo; o som do Afro Cuban All Star, da Yusa, do Rubén Gonzales e Silvio Rodriguez mexem comigo. Cuba é paixão eterna de mi vida, mas que nunca tive vontade de visitar. Nada pessoal ou ideológico, só falta de vontade mesmo. A mesma que não tenho de ir à Nicarágua. Ponto.
Sem estabelecer comparações, inexistentes por serem impossíveis, digo o mesmo de Miami. Essa falta de tesão pela Barra da Tijuca original foi elevada à enésima potência depois que certos artistas criaram uma fronteira estética entre Barretos, Goiania, Miami e, também, Nashville. Essa nova fronteira tentou atropelar o/a caipira de Cascudo, Cornélio Pires, Mário de Andrade, Jararaca, do Ranchinho, das Galvão, do Tião Carreiro, João Pacífico, Inezita, Villa Lobos e do Xavantinho.
Essa fronteira me fez pensar sobre Miami. Só que numa visão de mega exportador, diria até imperialista. Repito soletrando: im-pe-ri-a-lis-ta. Tudo por conta dos estertores do momento “histórico-histérico-curral’tural” que vivemos. Durante décadas fomos bombardeados pelo colonialismo estupidificante de Rambos, Norris, Bronsons, Donalds and Patetas; e, também, por sonoridades e cantos que começam e terminam na pobreza rítmica e poética. É óbvio que a grandiosidade de Ellas, Armstrongs, Billies, Dylans, Wonders Porters&Frankies, Wonders&Bennetts está fora desta partitura. Reduzamos a sonoridade e a mediocridade ao bate estaca e similitudes. Portanto, é hora de exportar, ou melhor: de devolver tudo ou quase. Em dobro.
Imagine o oceano que a derrota bolsozóica abre para a exportação “curral’tural made in Brazil”? Imagine artistas do naipe de Latino, Zezé, Bruno, Gustavo Lima, Chitãozinho, Leonardo, Regina Duarte, Cássia Kiss, Cláudia Leite, Roger, Sérgio Reis e Ratinho? Imagine empresários como os donos da Havan, Madero, Coco Bambu e outros do agro-fascismo? Imagine políticos do calibre de Lady Zambelli, Dandan Silveira, Nikolas Ferreira, Janaína Pascoal e Joyce Hasselman? Imagine isso tudo invadindo Miami?
Imagine a rádio Young Klan com Augusto, Constantino, Surita, Cecato, Copola, Fiuza e Ana Paula (recontratem todos, além da estreia de Milton Neves) fazendo comentários político-esportivos-morais e de costumes sazonais em “miamês”? Imagine a renovação da fé em South Beach, Coconut Grove Little Havana e Little Haiti, comandados pelo Bispo Edir, Bispa Sônia, apóstolos Estevam e Waldemiro, Malafaias, Felicianos e Damares, pessoas de Deus, da família, de fé, de bem e bens em Miami?
Certamente, boa parte dos “miamians” (não seria miamers?) não merece a vizinhança. Mas, fazer o quê se a cidade virou símbolo da mediocridade tupiniquim out of Brazil? Tem que ser em Miami e arredores porque em New York, New Orleans ou Hollywood essa gente não teria a menor chance.
Não citei o mito da estupidez, nem a ajudadora e serva do Senhor (seu marido) ou demais estrelas da familícia. Nem o Queiroz, talkey? É castigar demais Miami, mais até que qualquer furacão. Dos citados, quase todos, merecem outro lugar com direito a banho de sol. Tipo Papuda, Bangu 1 ou Catanduvas.

Luiz Hespanha é jornalista, escritor (Breves Memórias da Terra-do-já-teve e Livro das Verdades Inúteis, amazon.com.br), compositor de MPB (what is this?) #CançõesDeAmorDelírioTesãoInquietudeLutaDeClasseEÓcio que rega diariamente suas contradições e desprezos, entre eles o que tem pela mediocridade, a própria e a de outrem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *