Por Virgilio Almansur
Leio estarrecido inúmeras boutades em torno daquilo que chamam Russia invadindo a Ucrânia e a crise ucraniana… Deparo-me com análises toscas, cheias de um nhemnhemnhem infantilóide e com repercussões nas redes sociais que até invadem o jornalismo dito sério.
Pouco se fala do terror que alguns bi em dólares congelados aos afegãos têm trazido: famílias inteiras dizimadas desde a retirada que destruiu a imagem de Biden.
Os noticiários carregam a imagem de um Putin malvado, sanguinário, déspota (que acredito ter caído numa armadilha gestada há algum tempo), principalmente quando resolveu vender gás barato para a Europa e a expansão eurasiana, irreversível, contribuiu para as apreensões que a dita economia, “seu estúpido!”, é mestra em nos apontar vilões.
Dos anos 800, passando pelos 1000 com a invasão mongol, chegando aos 1700 com a proeminência polonesa e lituana e chegando a 2004/14, a Ucrânia tem história — e se confunde com a Russia. Pano rápido, não dá o tom dessa era que tem outros atores ignorados nos noticiários do dia a dia.
Para ficarmos nesses últimos 110 anos, três orrências marcaram a política mundial e sua geopolítica: as duas grandes guerras e aquela que permeia os atuais movimentos, trazendo seu ranço interesseiro a um ocidente que ainda crê em escaramuças, a guerra fria. A Alemanha esteve ali…
Para os russos, a grande guerra patriótica, conclamada desde 41, marca uma diferença que nossos livros escolares nunca exploraram, bem como sua retirada da primeira grande guerra, em 1918, que as crises sociais e a revolução socialista foram determinantes. A Alemanha foi efetiva…
Interessante que há um denominador comum, nessa ocorrência que nos é olvidada: novamente a Alemanha. E ela volta ao cenário com saliência ignorada! Mas preferimos as versões que nasçam por perto: Washington, CNNs da vida e suas timelifes vadias, induzindo-nos a uma compreensão limitada!
A crise no capitalismo vem sendo explorada por Russia e China e não é descartada pela potência que pode deixar de ser hegemônica: os EEUU. Num arranjo econômico que possa desprezar o dólar — haja vista o gasoduto pronto NordStream 2, que já liga Russia e Alemanha, à espera de um referendo desta —, o mundo antes unipolar caminha para uma bipolaridade com forte tonalidade asiática. Yuan e rublo já dão as mãos, num acordo histórico recente; não tem um mês…
Acordos econômicos e estratégias geopolíticas estão no cenário atual. Putin não esquece o Kosovo. Ele estava, já, bordejando o poder russo, jogando um xadrez invejável que hoje contam 23 anos. Sabe recuar, sabe esperar, movimenta seus cavalos como ninguém e faz xeque de 7 em 7 anos. Se quiserem mate, ele também tem…
Ninguém diz, porque há favoritos na maldade, que após a dissolução da União Soviética, a Rússia não invadiu nenhum país. Mesmo com poderes para neste 24/02 cegar satélites americanos, não o fez. Qual a estratégia, então? Desde 89, os americanos já instalaram quase 900 bases militares ao redor do mundo e derrubaram quase 60 regimes. O que fez a Russia? A mídia não faz essa reconstrução. Não interessa!
No entanto, há quem jogue para os seus; há quem busque alguma referência nas próprias raízes e defina o jogo a partir dos movimentos que um pretenso inimigo use com o fito de asfixiar a economia mundial. Mas se se bate a sua porta, que reação esperar? A política profunda americana costuma fazer seu jogo perverso. Construiu, friamente, bases que não serão toleradas.
O próprio centenário Kissinger já aludiu ao fenômeno OTAN como uma idiotia que não tem sentido, a não ser aos senhores das armas que continuam e continuarão faturando com essas movimentações que não traduzem a verdade dos fatos.
Parar Putin é parar a ascensão do uso de países para se almejar objetivos que não são escusos. Daqui a pouco, o outro gigante falará; China não está alheia ao que acontece e ontem mesmo fez sobrevôo a Taiwan. Aviso?
A crise não é ucraniana. A crise vem das independência econômicas, tendo como pivô a Alemanha. A crise poderá envolver de vez a ultradireita que foi embalada em 2014 e passou a hostilizar Moscou.
Tenho em mente algo que meu primogênito, às vésperas da invasão no Golfo, com seus nove aninhos, me deixou perplexo: “… Papai! A guerra já vai começar!”. Ele esperava ansioso aquilo que tudo assistimos num show pirotécnico, com os olhos fixos na TV.
Nossos malvados, em quaisquer graus, não deveriam ser favoritos. Há uma maldade que não sabemos controlar. Não há organização que contenha (vide Iraque), que procure antever desdobramentos e possa sustar o que uma guerra implica. Uma organização de nações unidas (?) tem na mesa esses movimentos todos. Não evoluem!
Todos os sinais foram dados exaustivamente! A Russia, há muito comunica: “… E aí? Ainda estamos na guerra fria?” Putin mesmo, há menos de um ano, mandou recados! E a ONU? Nada!!!
Ora, ora!!! O presidente parlapatão, comediante de origem Zelensky, se diz isolado. Melhor cair fora. Ninguém o ajudará! Palhaço-ator, colocado num governo via golpe gerado por interesses americanos em 2014, só resta o choro… Cantou de galo. Com o circo pegando fogo ninguém ouvirá o choro do palhaço.
Mas ficamos nós… Bem… Ficamos assistindo a esse mundo entregue aos loucos, esse mundo que tem paixão pela morte, por mísseis, bombas e extermínio. Lear, em Shakespeare, antecipa em quatro séculos (é pouco) esse manicômio que vivemos em nossas cidades, estados, mundo: “… Neste mundo, os loucos conduzem os cegos…”
Virgilio Almansur é médico, advogado e escritor.