Meio tutor, meio cúmplice de Maria Bethânia

Por Tom Cardoso

 

(…) Caetano permaneceria para sempre “meio tutor e meio cúmplice” da irmã, como desejavam Dona Canô e Seu Zeca. Os pais só autorizaram a viagem de Bethânia ao Rio — para substituir Nara Leão no musical Opinião — com a condição de o irmão a proteger de tudo e de todos.

E nada rolou fácil na ida ao Rio. Bethânia sentiu mais intensamente o preconceito contra nordestinos. Na véspera da estreia no Opinião, os produtores exigiram que ela se ajustasse rapidamente aos padrões estéticos locais.

“Eu fiquei nervosa com isso. O meu cabelo era muito crespo e o pessoal do Opinião achou que estava feio. Tinha que passar uma pasta para alisar o cabelo.”

Em 1966, a cinemateca do Museu de Arte Moderna programou um curta-metragem sobre a cantora Bethânia bem de perto, dirigido por Eduardo l Escorel e Júlio Bressane — pra ser exibido antes do filme “O desafio”, de Paulo César Saraceni.

No dia da apresentação, assim que a intérprete de Carcará surgiu na tela, iniciou-se uma vaia contínua.

Sentado na primeira fileira, ao lado da irmã, Caetano reagiu, aos gritos:

“Vocês são uns imbecis! Bethânia é um gênio, estão sabendo?”

Muito superior aos imbecis, ela adaptou-se mais rapidamente.

O leonino Caetano seguiu indignado:

“Quando Bethânia se lançou profissionalmente, eu me irritava com os comentários na imprensa sobre sua ‘feiura’. Não por ela ser minha irmã e eu desejar-lhe elogios, mas sobretudo por não suportar a cegueira das pessoas diante do lance estético que é o aparecimento da figura física de Maria Bethânia. Eu era impaciente.”

Mais histórias sobre Caetano e Bethânia no livro “Outras Palavras”.

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Tom Cardoso é jornalista, escritor e crítico musical

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