Por Nelson Nisenbaum
ALERTA MÉDICO – COVID-19
Nas últimas semanas atendi dois casos de pessoas que sofreram danos graves à saúde de forma aguda e absolutamente imprevista. Os dois pacientes sofreram danos inflamatórios difusos. O mais grave, deu entrada no hospital com insuficiência respiratória aguda e insuficiência renal aguda gravíssima e necessitou de diálise. O segundo caso fez uma insuficiência renal mais leve, com descompensação diabética, artropatias graves, dores neuropáticas e inflamação sistêmica (Prot C reativa de 380!).
Em nenhum dos casos foi feita a suspeita de COVID e os pacientes NÃO FORAM TESTADOS NO MOMENTO DA ADMISSÃO HOSPITALAR!
Sobre o primeiro caso, depois de uma pesquisa detalhada consegui descobrir que uma semana antes da internação o paciente tinha sintomas de resfriado, o que praticamente confirma o diagnóstico de COVID-19. O segundo paciente já havia recebido uma dose de vacina e embora não tenha tido sintomas respiratórios claros, teve febre, calafrios e dores no corpo na evolução. Este paciente teve sorologia fortemente positiva e confirmou a infecção.
É mais que certo, por estes dois casos que conheço pessoalmente e por outros tantos que ouvi falar direta e indiretamente, que em muitos locais não há rastreio e sequer suspeita clínica.
Temos que ter a consciência clara de que qualquer paciente com manifestações inflamatórias, trombóticas, renais, ou tão somente febre e mal-estar é um paciente que deve ser rastreado à exaustão, levando-se em conta ainda que tenho visto muitos casos de testagem negativa em pacientes com quadro óbvio de COVID-19. Ainda ontem, recebi uma sorologia de paciente suspeito por contato que já recebeu duas doses de vacina Pfizer e sua dosagem de anticorpos deu ZERO. Isto não significa que a vacina Pfizer não seja boa. Ao meu ver, o exame falhou, e é o que temos visto com certa frequência também.
Escrevo tudo isso para alertar que em função deste conjunto de coisas, a SUBNOTIFICAÇÃO deve estar muito pior do que sempre esteve, cientes de que estamos lidando com uma nova cepa de comportamento ainda não totalmente conhecido. Mas já sabemos sim que ela é capaz de reinfectar quem já teve a doença, quem já foi vacinado, e quem já teve doença e vacina.
No contexto de termos hoje apenas 23% da população vacinada com duas doses, e da contagiosidade da variante DELTA ser quase tão alta quanto à do Sarampo, e de já ter se comprovado a transmissão AO AR LIVRE DESTA CEPA, penso que estamos em um mau momento da pandemia. Definitivamente, NÃO É HORA DE RELAXAR. Reforcem os cuidados.
Pensar neste momento em Carnaval, Reveillon, festas e relaxamento das medidas é uma INSANIDADE, um CRIME contra a saúde pública.
Nelson Nisenbaum é médico graduado pela Santa Casa de São Paulo, especialista em Clínica Médica e chefe do Centro de Referência de Especialidades do Rudge Ramos, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
