MBL armou contra o padre Julio Lancelotti

Por Altamiro Borges – blog do Miro

Reprodução do Facebook

A revista Piauí desta semana traz mais uma demolidora denúncia contra o Movimento Brasil Livre (MBL) – o grupelho direitista que nasceu durante a cruzada golpista pelo impeachment de Dilma Rousseff, apoiou e depois foi defecado pelo fascista Jair Bolsonaro e hoje colhe desgaste em cenas execráveis, como a do deputado Arthur do Val, o Mamãe Falei – o asqueroso das “ucranianas são fáceis porque são pobres” –, que renunciou covardemente ao seu mandato.

Segundo a reportagem, o movimento fez uma armação criminosa contra o padre Julio Lancellotti visando desgastar sua defesa dos moradores em situação de rua para projetar a candidatura de Arthur do Val à prefeitura da capital paulista em 2020. Pelos dados apresentados, a matéria poderia até resultar em novo processo contra o grupelho – que está em plena campanha para eleger três deputados federais em São Paulo. Vale conferir alguns trechos:

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Dois ex-integrantes do Movimento Brasil Livre, o grupo que projetou Arthur do Val politicamente, afirmam que o ex-deputado paulista tentou se beneficiar de uma armação criminosa contra o padre Julio Lancellotti, ocorrida em setembro de 2020. Na época, um denunciante anônimo enviou à polícia um vídeo em que um suposto adolescente de 16 anos trocava mensagens de cunho sexual com um suposto perfil do padre. O objetivo da fabricação do vídeo era incriminar o pároco no crime de pedofilia. Agora, sabe-se que era uma armação, crime que, a depender do enquadramento, pode render de 6 meses a 1 ano de prisão.

O engenheiro Fernando Dainese e o relações-públicas Lucas Studart, ambos ex-MBL, garantem que o adolescente de 16 anos chamado “Matheus Rocha Nunes” era na verdade Guto Zacarias, então assessor parlamentar de Do Val na Assembleia Legislativa de São Paulo. Na época, Zacarias tinha 21 anos e trabalhava para a campanha eleitoral de Do Val, então candidato a prefeito de São Paulo pelo Patriota. Segundo Dainese e Studart, Zacarias abriu a conta falsa em nome de “Matheus Rocha Nunes” no Facebook, inventou que o personagem tinha 16 anos e entrou em contato com um perfil que supostamente pertencia ao padre Lancellotti. (O padre sempre negou que tivesse trocado as mensagens. Seu advogado, Luiz Eduardo Greenhalgh, disse na época, e voltou a dizer agora à Piauí, que “todo esse conteúdo foi alvo de manipulações”.)

O golpe era parte da estratégia de impulsionar a candidatura de Do Val. “O vídeo do padre foi produzido pelo MBL na época da campanha do Arthur”, afirma Fernando Dainese. “O Guto se passou por um menor de idade. Eu não estava à frente dessa situação. Mas eu vi ele fazer essa operação contra o padre.” Lucas Studart confirma: “Foi armado todo um suspense para mobilizar a militância do MBL”, diz ele, que na época era um dos coordenadores cariocas do MBL. A conta falsa foi criada no dia 2 de setembro de 2020, e “Matheus Rocha Nunes” manteve contato com a suposta conta do padre até o dia 14 de setembro. Nesse meio-tempo, no dia 10, enquanto transcorria a farsa, Do Val deu entrevista à rádio Jovem Pan, dizendo o seguinte: “Não pode falar do padre Julio Lancellotti, aquele tranqueira lá. Eu vou desmascarar esse padre, inclusive. Pode cortar esse trecho e guardar: eu vou desmascarar esse padre.”

No dia 15 de setembro – um dia depois de a conta de “Matheus” e o suposto perfil do padre terem parado de interagir –, Do Val postou em seu perfil no Twitter: “O que o padre Julio Lancellotti faz é DEPLORÁVEL”, escreveu, usando letras maiúsculas. “A Igreja Católica tem uma linda histórica [sic] e não pode ficar à mercê de um cafetão da miséria. Nunca ameacei ninguém, nem ele. Ele é uma das maiores farsas do Brasil, em breve vocês saberão! Vou desmascarar esse padre.” Concluída a armação, a Delegacia de Capturas de São Paulo recebeu – por “vias hierárquicas”, segundo diz o inquérito – um vídeo de 14 minutos no qual apareciam conversas por escrito de conteúdo sexual entre, supostamente, o adolescente e o padre.

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Segundo os dois ex-integrantes do MBL, no entanto, não era Arthur do Val quem comandava o esquema. “Era uma estratégia eleitoral do Renan”, diz Dainese, referindo-se a Renan Santos, fundador do MBL. (No mesmo áudio sexista de Do Val sobre as ucranianas, ele diz que o próprio Renan Santos viajava por países europeus “só pra pegar loira”, fazendo o que chamavam de “tour du blond”.) “O Guto foi o catfish, se passou por outra pessoa para prejudicar o padre Lancellotti”, afirma Studart. Dainese reafirma o papel de Zacarias. “O Guto foi a ferramenta do Renan”, diz ele, que era então coordenador do MBL na cidade de São Paulo e um dos dirigentes da campanha de Rubinho Nunes, do MBL, que disputava uma vaga de vereador pelo Patriota. “Guto fez essa operação dentro do escritório de advocacia do Rubinho, que também era onde funcionava o comitê de campanha”, completa Dainese. Nunes foi eleito.

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Por meio da assessoria de imprensa, Do Val e Renan Santos negaram que o comitê de campanha tenha criado o perfil de uma pessoa se passando por um menor de idade. “São acusações falsas de desafetos bolsonaristas”, disse Israel Russo, chefe de comunicação do MBL. O ex-assessor parlamentar Guto Zacarias tem percorrido o estado de São Paulo e feito vídeos no TikTok, onde soma mais de 350 mil seguidores, para se eleger deputado estadual nas eleições deste ano pelo União Brasil.

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Cadê a mídia sensacionalista?

Será que a polícia paulista vai retomar a investigação sobre essa “armação criminosa”? Ela foi aberta na época a pedido da defesa do padre Julio Lancellotti, mas foi arquivada por “falta de provas”. Será que o crime, que pode render de seis meses a um ano de prisão, vai dar em algo? Será que a mídia sensacionalista, que fez tanto escarcéu contra o religioso defensor dos moradores em situação de rua, vai dar destaque para as denúncias contra o MBL?

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