Há 96 anos, desde Le Mesnil-Théribus, na França, ascendia à arquibancada de cima a notável pintora Mary Cassat. Aos 83 anos, deixava como legado uma formidável obra impressionista e uma formidável história de vida.
Mary nasceu em Allegheny, na Pennsylvania, em uma família de classe média alta. Dessa forma, teve acesso a boa educação e, ainda jovem, pôde viajar pela Europa e visitar cidades como Londres, Berlim e Paris. Lá, aprendeu a falar Francês e Alemão, além de tomar aulas de desenho e música.
Poucos anos depois, voltaria à Europa, já determinada a aprimorar suas técnicas de pintura. Sua obra logo ganhou os elogios de Edgar Degas e Camille Pissarro, que depois se tornariam seus amigos e mentores.
Suas pinceladas são impressionistas, fluidas, precisas e destinadas a reconstituir as texturas, volumes e formas da ternura, especialmente ao retratar outras mulheres e os afetos entre mães e filhos.
Tornar-se-ia uma das três grandes damas do Impressionismo, ao lado de Marie Bracquemond e Berthe Morisot.
Agrada-me, particularmente, um óleo sobre tela de 1880, batizado de “Tea”, hoje no Museum of Fine Arts de Boston. As cores são sedutoras e dá para sentir o calor e o aroma da infusão, especialmente nas noites invernais.
Curiosa, Mary adorava experimentar materiais. Não raro, reinventava suas tintas. Foi pioneira no uso de vários tipos de pigmentos metálicos.
Em vida, a pintora
sempre defendeu direitos iguais para homens e mulheres. Dizia que as elas podiam desenvolver, com competência, qualquer atividade, e ainda assim desfrutar das graças da maternidade.
Ainda que nunca tenha se casado ou tido filhos, adorava crianças e as representava com esmero especial em suas telas.
Mary também foi uma sufragista. Em 1915, contribuiu com dezoito trabalhos para uma exposição de apoio ao movimento, organizada por Louisine Havemeyer, destacada feminista de sua época.
Esse posicionamento político gerou pesadas críticas familiares, como de sua cunhada Eugenie Carter Cassatt, uma mulher de hábitos conservadores. Como resposta, Mary vendeu antecipadamente seu valioso patrimônio de obras, antes destinado a seus herdeiros. Fez bem!