Mais um capítulo da novela Capes

Sonia Castro Lopes

 

Conforme já divulgamos neste portal, reitores das mais importantes universidades do país elaboraram uma carta à comunidade acadêmica criticando a nomeação da atual presidente da Capes, Claudia Queda de Toledo.  Segundo pesquisadores, a opção do ministro da Educação, Milton Ribeiro, que declarou ter adotado como critério de escolha um “perfil técnico e acadêmico” é “vergonhosa”. Reitora do Centro Universitário Bauru, antigo Instituto Toledo de Ensino (ITE), fundado por sua família, a atual presidente ali cursou seu doutorado, concluído em 2012.

 

Os reitores da Universidade São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) publicaram um manifesto no último sábado (17) contra a nomeação da nova presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Cláudia Mansani Queda de Toledo.

 

 Com produção acadêmica rala e pouquíssima experiência em gestão, Claudia tem um currículo fraquíssimo. Sob sua coordenação o curso de mestrado “Sistema Constitucional de Garantias de Direitos” recebeu nota 2 na avaliação quadrienal da Capes realizada em 2017. Após revisão ocorrida em 2020 a nota saltou para 4, dando direito não só a reabilitar o curso de mestrado, mas também o de doutorado.

 

Como se não bastasse passar pelo constrangimento de ter a instituição onde ocupava o cargo de reitora ser descredenciada pela Capes, órgão que agora preside, Cláudia Toledo ainda terá que dar explicações sobre possíveis plágios encontrados em sua dissertação de mestrado, apresentada à PUC-SP em 2008. O que se diz é que na dissertação intitulada “O ensino jurídico no Brasil e o Estado Democrático de Direito” há trechos copiados de outras fontes sem a devida citação. Após a denúncia, feita pelo jornalista Lauro Jardim em sua coluna da última segunda feira (19) no jornal O Globo, a Capes negou a existência de plágio na pesquisa acadêmica de sua nova presidente.

 

O fato é que o ministério da educação deste governo virou uma piada. E para piorar a situação, a nomeação da nova presidente da Capes gerou uma crise na base aliada do governo por parte de parlamentares conservadores e evangélicos que a acusam de defender “princípios de esquerda.” Até o nome do educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira e proscrito no atual cenário educacional, foi lembrado como uma referência teórica que poderia influenciar os métodos da atual gestão da Capes. O vice líder do governo, Pastor Marco Feliciano (Republicanos), vem pressionando o MEC para que a nomeação seja revertida e chegou mesmo a colocar o cargo à disposição.

 

A bem da verdade, neste governo inimigo do conhecimento e da ciência, quem tem meio olho é rei. Basta examinar o exemplo dos que ocuparam o cargo máximo na área educacional. O último deles, Carlos Alberto Decotelli, que nem chegou a tomar posse, enfrentou acusações de plágios em trabalhos acadêmicos, além das mentiras declaradas em seu currículo lattes, fatos que atingiram sua reputação e ocasionaram seu pedido de demissão. Alvo de chacotas e memes pelas redes sociais, sumiu do mapa. Pela amostra dos ministros escolhidos para ocupar a pasta da educação, torna-se fácil imaginar o nível dos ocupantes de cargos de segundo e terceiro escalão.

 

 

Foto: Correio Braziliense. Reprodução Instagram

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