Por Beatriz Herkenhoff
#StephanieLand sofreu abusos psicológicos e viveu um longo processo de negação de sua realidade até buscar ajuda.
Entre as estratégias de cura, ela passou a escrever sobre suas experiências.
O resultado foi a publicação do livro “Maid: Hard Work, Low Pay and a Mother’s Will to Survive” (Empregada doméstica: trabalho árduo, baixo salário e a vontade de uma mãe de sobreviver). Baseada nesse livro, #Maid acabou de ser lançada como minissérie na “Netflix (2021).
Fiquei muito impactada, sensibilizada e envolvida com essa forte história de Stephanie (que representa milhares de mulheres em situação semelhante). São dez episódios surpreendentes. Não só pelo conteúdo, mas, pelo suspense gerado, pela expectativa do que irá acontecer, pela sensação de que não haverá saída.
A sequência é dinâmica, movimentada, intensa, densa, bonita, plena de luz, de diálogos profundos, de gestos amorosos, também de atitudes abusivas, experiências de rejeição e abandono. Apesar de retratar uma realidade triste, transborda amor e esperança.
De forma especial, na relação que a mãe estabelece com a filha. A protagonista na minissérie chama-se Alex, gera em nós uma empatia por sua força e garra para recomeçar e superar o caos em que se encontra.
A atriz mirim é cativante. Aliás, os atores são excelentes! Expressivos em sua linguagem facial e corporal.A série tem um caráter educativo porque a escritora relata as dificuldades enfrentadas no processo de enfrentamento do abuso.
Eu, que trabalhei 10 anos com dependência química, pude perceber que as pessoas que são vítimas de abuso também passam por etapas semelhantes ao dependente químico: inicialmente negam a realidade (por medo de admitir as agressões e denunciar). Quando iniciam um processo de ajuda terapêutica, sofrem recaídas, isto é, mesmo recebendo proteção judicial, voltam atrás e dão mais uma chance ao agressor. Precisam, muitas vezes, chegar ao fundo do poço para tomar a decisão de se libertar e romper definitivamente com a situação.
Maid retrata também o abuso geracional. Vítimas de violência reproduzem gestos e ações de seus pais, tornando-se abusadores. Aquelas que veem suas mães sendo agredidas e maltratadas, muitas vezes, escolhem companheiros que irão repetir comportamentos semelhantes.
É uma série imprescindível, pois, nossa sociedade nega a realidade da violência doméstica, ignora e desqualifica a dor das mulheres. Contribui para que atrocidades continuem acontecendo.
Vemos também a burocracia do Estado com suas exigências de papeladas e procedimentos que se constituem em obstáculos para a ruptura com a dependência financeira em relação ao agressor. Por isso, romper com esse círculo vicioso, implica em lutar, muitas vezes, contra a pobreza, pelo acesso à moradia e pela garantia de direitos sociais básicos.
Uma realidade gritante vivida por milhares (milhões) de mulheres no Brasil e no mundo
Em 2020, foram registradas no Brasil mais de 105 mil denúncias de violência contra a mulher. Dados recentes publicados no #Datafolha mostram que uma a cada quatro mulheres sofreram alguma violência nessa pandemia.
A Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006, batizada como #LeiMariadaPenha representa um divisor de águas em relação à proteção às mulheres vítimas de violência no Brasil. Mas, apesar das conquistas, a lei Maria da Penha já está defasada.
Ativistas pela garantia de direitos e proteção às mulheres vítimas de violência doméstica, estão divulgando um abaixo assinado para sua revisão. Consideram que a lei é importante, mas, insuficiente para salvar vidas do feminicídio.
Destacaria entre as mudanças reivindicadas:
Estabelecer a obrigatoriedade da construção de uma casa de atendimento da mulher (Casa da Mulher Brasileira) em cada Estado da Federação. Garantir medidas que permitam um controle do agressor e assistência à vítima. Que a mesma possa ser acompanhada por um psicólogo oferecido pelo SUS. Que o agressor seja devidamente monitorado, para que não volte a perseguir a vítima.
Se você presenciar algum ato de abuso, mesmo que seja psicológico, não se omita, ligue #180. Vamos nos comprometer com o gravíssimo problema social vivido pelas mulheres.
Vamos assinar esse abaixo assinado!
E vamos assistir Maid!
(selecione o endereço eletrônico e aperte o botão do lado direito do cursor para assinar)
https://www.change.org/p/altera%C3%A7%C3%A3o-da-lei-maria-da-penha-pelos-direitos-das-mulheres-pelo-fim-do-feminic%C3%ADdio
Beatriz Herkenhoff é doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo).
Resposta de 0
Assisti o último episódio de Maid domingo passado. Alex é nos envolve pela amor a sua filha e pela sua determinação em seguir ainda que alguma vezes pareça não haver saída. Chama a atenção a dificuldade para acessar assistência e a humilhação a que foi submetida quando precisava utilizar os benefícios do governo, mostrando dessa forma a crueldade da sociedade capitalista americana. Muito bom!
Anita, Gratidão por seu comentário e estímulo para que mais leitores possam assistir Maid. Série que nos tira do lugar do conforto e do comodismo, Beatriz