Por Beatriz Herkenhoff
Quando fiquei grávida percebi que no instante em que a mulher carrega um pequeno ser em seu ventre ela se torna uma pessoa de luz. Passa a ter uma aura especial que irradia amor, esperança, alegria e certezas.
Na tentativa de homenagear as mães nesse mês de maio de 2021, percebo essa luz ao visitar a história de cada uma…
Em primeiro lugar, quero expressar o meu amor, reconhecimento e gratidão à minha mãe. Perdi meu pai quando eu tinha seis anos. Mesmo com toda dor pela morte do meu pai, minha mãe seguiu em frente de forma criativa, combativa e amorosa. Criou uma rede de alegria que nos ensinou que o luto se supera enchendo a vida de sentido. Mostrou, com o seu exemplo, que quando o amor familiar se fecha em quatro paredes, ele murcha e deixa de cumprir a sua missão.
Nesse instante, somos convidados a lembrar de todas as mães. Mães que geraram filhos, mães de coração que os adotaram. E, muitas mães não biológicas que exercem a maternidade lindamente, em sua profissão, na relação de cuidado e amor que estabelecem com os sobrinhos, afilhados e todos que a cercam.
Conversando com uma amiga que é mãe e mora na periferia, ela me falou sobre as mães, que mesmo vivendo na pobreza, são alegres, fortes e lutam bravamente para educar os seus filhos. Mães que vivem a dor do preconceito, do abandono, do desemprego, da violência doméstica, da morte precoce de seus filhos. Mães que vivem o medo quando os filhos saem para a balada, angustiadas por não saberem se irão voltar, porque jovens pobres e negros sofrem ameaças de vida permanentemente.
Mesmo assim são mães que transbordam coragem, esperança e amor em tudo que realizam. Mães que passam o dia fora, trabalham pesadamente, chegam em casa exaustas e precisam manter a casa limpa, as roupas lavadas, a comida pronta e os filhos bem cuidados. Temos também as avós que assumem os cuidados dos netos, e mães que são chefes de família, não contam com o apoio de um companheiro.
Todas amam incondicionalmente, se solidarizam entre si, constroem uma rede de ajuda mútua, dividem o pouco que têm. Não deixam a tristeza tomar conta do seu cotidiano. Fazem churrasco em seus quintais, ouvem música alta (para espantar as sombras que querem tomar conta do seu ser), participam da escola de samba, da catequese, da associação de moradores e de rodas de amigos em bares. Renovam sua força com alegria e doação. Atividades que se restringiram nesse momento de #pandemia.
Muitas mães perderam seus filhos assassinados e conseguiram recomeçar, redirecionaram o sentido da sua vida para o serviço e a solidariedade. Participam de campanhas no seu bairro, contribuem com a distribuição de marmitas, fazem visitas aos morros para orientar sobre os cuidados e proteção, entre outras atividades.
Nosso carinho pelas mães de rua, que perderam a guarda de seus filhos, mas, que só entregaram os pontos quando se viram totalmente sem alternativa. Nossa solidariedade às mães que estão vivendo, na #pandemia, a dor de perder seus filhos e não poderem sepultá-los. Impedidas de fazer o processo de luto daqueles que deveriam ir depois delas.
Esses dias, uma grande amiga comunicou que sua mãe tinha acabado de falecer, e me disse: “Como vou continuar pedindo benção à minha mãe todos os dias?” Mas, ela mesma respondeu: “vou continuar sim, porque agora ela está mais perto ainda!”
Minha homenagem às mães que interromperam sua missão de mãe aqui na terra, mas que continuam nos abençoando com força. Mãe se eterniza em seu infinito amor! E nunca larga a mão de seus filhos.
Diante de tantos desafios vividos por milhares de mães, não podemos nos fechar em nossa própria visão de mundo sobre os significados da maternidade.
Que todas as mães possam fazer parte da constituição do nosso ser, do nosso reconhecimento e gratidão. Que nossa solidariedade chegue a cada uma e que possamos aprender muito com outras mães.
Que a nossa maternidade se expanda e chegue a muitas mães…
Elas fazem a roda do mundo girar.
Beatriz Herkenhoff é doutora em serviço social pela PUC São Paulo. Professora aposentada da Universidade Federal do Espírito Santo.
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Linda crônica, Beatriz! Tocou meu íntimo. Consegui ver as situações e colocar o meu olhar em casa mãe mencionada
Amei. Parabéns!