Por Simão Zygband
Esperei baixar um pouco a poeira do primeiro turno para escrever algo que fizesse sentido e que reunisse impressões que consigam dar uma ideia minimamente equilibrada sobre as históricas eleições de outubro.
Em geral, tendo ao pessimismo, mas tenho a impressão de que ele contribui muito pouco nestas alturas do campeonato. Também não é legal ficar fazendo o jogo do contente, dando uma de Poliana, enquanto o mundo desaba sob os nossos pés. Detesto ter uma impressão equivocada do processo e tendo a me penitenciar quando erro muito nas minhas avaliações.
Não sou um gênio do marketing político, muito pelo contrário, e não é fácil ser. Sou apenas um sujeito que sempre acompanhou a política e, como qualquer comentarista esportivo, sujeito ao erro. Não é fácil fazer análise política. Que o diga João Santana, um dos papas das campanhas de Lula e Dilma Rousseff, que fracassou redondamente com Ciro Gomes.
Mas o marketeiro em si não faz milagre, apenas dita uma linha confortável para o seu cliente, no caso o candidato. Quem define mesmo é a política, que ganha uma boa roupagem através de um bom profissional de mídia.
Lula só não será o próximo presidente do Brasil se cometer muitos erros até o dia 30 de outubro, data do fatídico segundo turno. Não parece ser o caso, mas todo o cuidado sempre é pouco.
Bolsonaro tem gasto um rio de dinheiro (público) para manter a tortura de seu desgoverno por mais quatro anos. Seria uma excrescência. Isso tem feito a diferença e garantiu-lhe um honroso segundo turno. Diante da calamidade que ele proporcionou a todos os brasileiros, pode-se dizer que foi um achado para o genocida. Mas é sempre bom lembrar que ele ainda conta com o fundamental apoio do poder econômico e de parte da mídia. Nunca é fácil derrotar quem tem a máquina na mão, mas uma hora a casa cai. Bolsonaro fez por onde tomar uma “naba”.
Mas, para dar sossego aos nossos quadros, hoje não mais composto apenas por petistas, convém não cometer alguns erros que estão sendo recorrentes e que comprometeram de alguma forma o primeiro turno:
1) Não se deve menosprezar os inimigos. Isso muitas vezes acontece com frequência. Ninguém poderia imaginar que a Damares, o Astronauta e o desleal Sérgio Moro se elegessem senadores. Mas não é que eles se elegeram?
2) Bom humor em campanha é sempre bem vindo, mas só fazer piadinhas contra os inimigos para o nosso povo é engraçadinho mas não ganha votos. As mesmas piadinhas rolam do lado de lá contra nós. Bolsonaro sempre foi motivo de chacotas e veja no que deu.
3) A Frente de Oposição parece não entender ainda como funcionam as redes sociais. Há bastante videozinhos engraçadinhos de Tic Toc feitos para nós mesmos, mas que não furam a nossa “Bolha”. Passou da hora de dar mais atenção e ter a humildade de aprender com o inimigo. É preciso fazer com que nossas mensagens cheguem com mais vigor em uma parte do eleitorado que precisa ser esclarecido, para não virar votos contra nós. Está na moda um “meme” que é que o PT defende banheiros unissex para meninos e meninas. É a nova “mamadeira de piroca”. Mas o que se faz contra isso a não ser choramingos e lamúrias?
4) Não dá para fazer campanha sem material. Lula só está a um passo de vencer no segundo turno por que ele é um candidato extremamente vendável e carismático. Mas, por onde se ande, não há uma bandeira da campanha do Lula e há várias do Bolsonaro. As famosas toalhas, que decoraram várias casas e apartamentos foram compradas pelo eleitor. Mas o povo mais pobre não teve esta chance. Bolsonaro inundará o país com material, dando numa impressão que tem um poderio infinitamente maior do que a Frente Ampla. Passou da hora de conseguir recursos para que todos possam mostrar que estão com Lula.
5) Lula precisa manter os votos do primeiro turno e angariar pouco mais de 1 milhão. É, sem dúvida, uma tarefa bem mais fácil do que o nosso inimigo (que tem que tirar uma diferença de 6 milhões de votos), ainda mais com o apoio de Simone Tebet e o de Ciro Gomes (que não dá o braço a torcer e foi o grande responsável por ter havido segundo turno).
6) Enfim, sem salto alto, as eleições estão na mão. A bola está na caçapa e só falta empurrar para dentro. É o que faremos.