Lula na capa da Time é recado para Bolsonaro

Por Simão Zygband

 

Quem conhece o jornalismo sabe que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sido a capa da influente revista Time nunca é um fato isolado. Por trás de uma reportagem como esta envolve um mundo de interesses econômicos e políticos que nunca devem ser desprezados. Muito raramente o Conselho Editorial de uma publicação desta envergadura aprova uma reportagem de capa como esta sem que seja ouvido o dono da empresa, que por sua vez, também ouve o seu grupo de relacionamento composto por banqueiros, acionistas, grandes empresários, enfim, parcela dos milionários norte-americanos que têm influência no Brasil e no mundo.

 

Os proprietários da Time, Marc Benioff e sua esposa Lynne são o exemplo dos novos e modernos milionários americanos, extremamente influentes, pois já possuíam a Salesforce, uma das maiores empresas de tecnologia da atualidade, atuante de ponta no chamado Vale do Silício. A intenção deles era exatamente ter negócios na área de publicações e decidiram investir U$ 190 milhões na revista.

Não se pode dizer que Marc e Lynne sejam  “progressistas”. O termo mais apropriado mesmo seria modernos. São daqueles que preferem não se envolver (muito) com a política, se é que isso é possível para empresários de Comunicação, mas possuem como maior característica a fama de serem filantropos. Ele é conhecido como “líder cívico” ou “CEO Ativista”.  Em 2018, o braço filantrópico da Salescorpe anunciou a doação de US$ 3 milhões para combater o problema habitacional em sua cidade, São Francisco.

É bem verdade que a Time tomou posições fortes durante o governo republicano de Donald Trump. A revista foi bastante crítica ao presidente e teve papel fundamental na cobertura da crise de separação entre crianças e imigrantes, um escândalo que tomou proporções internacionais. Nesse sentido, Marc Benioff e a revista têm algo em comum. Por diversas vezes criticou o presidente Trump em público ou em publicações em redes sociais. Ele afirma não ter laços com os dois principais partidos do país, apesar de já ter apoiado candidatos democratas.

O que significa a capa com Lula

Uma das leitura que vi realizada pelo jornalista Pio Redondo em uma postagem acredita que ao governo Democrata dos EUA não interessa a extrema-direita, apoiador de Trump, continuar governando o Brasil. Na semana passada, a subsecretária de Assuntos Políticos norte-americana, Victoria Nuland esteve no Brasil onde se encontrou com representantes do Itamaraty, afirmando que os americanos confiam no sistema eleitoral brasileiro  e que se trata de um dos mais “confiáveis e transparentes” do hemisfério Sul.

É um  recado direto a Jair Bolsonaro que os EUA estão de olho nas eleições brasileiras (como sempre, aliás), que não aceitarão o argumento de fraude, a tecla que o (sic) presidente brasileiro tem se batido muito, a ponto de convocar ajuda do Exército (sic) para fiscalizar as urnas eletrônicas, exatamente aquelas com que o governante miliciano se elegeu em 2018.

Não é de se estranhar, portanto, que o governo dos EUA, eleito por empresários mais democratas como Marc Benioff, tenham utilizado a revista Time, com histórico bastante conservador, é verdade (mas já sob o comando dos novos donos) para dar um recado a Bolsonaro, por considerá-lo um atraso para o mundo inteiro.

O CEO Ativista já havia sido grande crítico de Trump no seu enfrentamento à pandemia de Covid-19, onde morreram 993 mil pessoas e, com certeza, acompanhou o que aconteceu no Brasil, com Jair Bolsonaro, responsável direto pela perda de mais de 660 mil brasileiros. Não é segredo para ninguém que Bolsonaro era admirador de Trump e até batia continência para a bandeira norte-americana ainda sob o governo conservador.

Aparentemente ao governo norte-americano não interessa que o Brasil continue governado por um insensível genocida e extremista como é Bolsonaro, que vira e mexe tem arroubos golpístas e, porisso, demonstra simpatia pela candidatura Lula, que encabeça uma Frente Ampla contra o fascismo, composta por um leque de alianças do centro à esquerda. Bolsonaro, com sua politica econômica inconsequente, faz com que as empresas americanas percam dinheiro no Brasil. E isso é o mais imperdoável para eles.

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