Luiz Pinguelli Rosa: uma trajetória exemplar

Por Roberto Leher

O Brasil e a ciência mundial perderam hoje uma liderança acadêmica e intelectual que contribuiu para tornar o Brasil uma nação inserida, por meio de suas universidades públicas, nos circuitos mundiais da ciência e da cultura comprometidos com o porvir dos povos. Por seu engajamento nos debates dos grandes dilemas da humanidade, como as mudanças climáticas, o prof. Pinguelli concorreu para forjar um outro mundo possível, mesmo em tempos em que as teias do ‘presentismo’ turvam a própria possibilidade de futuro.

A paixão que moveu sua vida sempre teve como objeto do desejo o “fazimento” de uma universidade pública comprometida com a soberania nacional, base e fundamento de um projeto de nação que pudesse erigir um porvir digno para todo povo. Compreendeu que a soberania energética era um pilar decisivo para o futuro dos povos. Amparado nos ombros de um outro gigante, o prof. Coimbra, se engajou, de corpo e alma, na vida universitária guiado pela ideia motriz de que a universidade pública deveria ser uma instituição, simultaneamente, de formação humana sofisticada e rigorosa das novas gerações, e de inquebrantável compromisso ético com os problemas nacionais e dos povos. Questionou e alargou cânones acadêmicos possibilitando que a COPPE e, mais amplamente, a UFRJ, se caracterizassem como espaços pulsantes de produção de conhecimento com novas miradas epistemológicas, sobretudo na busca da interdisciplinaridade própria da vida social dos povos.

Agiu para combater a ditadura empresarial-militar, contribuindo de modo axial para organizar o conjunto dos docentes e, assim, viabilizar um agir coletivo, desde o cotidiano do fazer universitário. Neste sentido, atuou ativamente para construir a Adufrj e a ANDES – sendo seu segundo presidente (1982-84). Por diferentes vias, seguiu comprometido com as grandes lutas do país.

No período em que tive a honra de ser reitor da UFRJ, o prof. Pinguelli sempre se notabilizou pela solidariedade ativa e inspiradora, mesmo em um período de ruptura com a já frágil democracia, encorajando a voz pública das universidades em prol da educação pública, da ciência, do desenvolvimento tecnológico e da democracia política e econômica. Ao longo de toda sua profícua vida acadêmica, nosso Emérito demonstrou para as novas gerações que o agir científico é incompatível com o medo difundido pelas forças destrutivas, pois o temor almeja silenciar as instituições universitárias, justo quando as suas polifônicas vozes são necessárias para fomentar uma nova vontade nacional e popular transformadora.

Um país é forjado também pelo exemplo e pelas contribuições dos seus grandes intelectuais-organizadores. No panteão dos grandes, irmanado com lideranças sociais, cientistas, artistas, Pinguelli seguirá cintilando, nos instando à ação e ao movimento de construir o novo em um contexto em que as forças destrutivas querem silenciar as universidades no manto do medo e da indiferença.

Pinguelli, presente, hoje e sempre!
Rio, 3/3/22

Roberto Leher é Professor Emérito da UFRJ

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