Por Luis Otavio Barreto
Lya Luft, ao se arrepender, saiu com o argumento: “Não havia nada melhor”. Pois bem, outra vez volto àquele pensamento sobre as prioridades. Quais eram as de Luft?! Certamente não eram como as de uma outra escritora, Carolina Maria de Jesus. Não, com efeito, não eram!
O arrependimento de Lya não me convence e se não compro essa história eh porque respeito duas coisas: inteligência e franqueza. Lya era inteligente e Bolsonaro, franco. Ninguém, jamais, poderá dizer que ele mentiu sobre o que e quem era e sobre o que pensava e que pretendia fazer. Lya teve oportunidades na vida; estudou, viveu e comeu muito bem. Morreu em paz, no conforto do lar. Que bom pra ela. Lya era loura, olhos claros, sabia assinar cheques, devia ter cartões com bons limites, ser cliente personalitté…
Não, nada disso é crime ou imoral… desse jeito, com essas possibilidades, as prioridades mudam, a coisa vai pra outro aspecto que prefiro que você interprete como lhe convier. Nelson Rodrigues escreveu que a um morto se perdoa; não obstante, a mesma inspiração deu-nos: um caráter não se improvisa. O caráter de ontem, portanto, é o de hoje e será o de amanhã. Que Lya descanse, enquanto a gente trabalha pra limpar a besteira que ela ajudou a fazer.
Foto: Lia Luft (1938-2021)
Luis Otavio Barreto é músico pianista e professor de língua portuguesa.