Construir Resistência
Foto: Arquivo pessoal

Lógica cínica

Sobre a entrevista de João Doria ao programa Roda Viva. ontem (23/8)

Por Virgilio Almansur

Jornalista do Valor Econômico  pergunta a BOLSODÓRIA por que os médicos e a saúde em geral receberam tão abaixo do judiciário, quando a saúde tinha enorme prioridade nessa pandemia. A resposta foi excelente para que nossos colegas, bolsodorianos, reflitam mais ainda além da escória arrependida. Esta, que acredita no “nem horror nem terrror, vote joão trabalhador, o gestor”, deveria ouvir e escutá-lo: “… Maria Cristina Fernandes! Você jornalista do Valor Econômico, muito bem paga, salário diferenciado, pode se comparar com o porteiro da empresa? Seria justo cobrar do dono do jornal, equidade que você cobra de mim?” A corja médica, lamentavelmente aderente, provavelmente não entenderá o que contém no raciocínio de uma margarina.

Depois de todos os salamaleques, bolsodória manifestou profunda pena daqueles que recebem 3, 4 salarios mínimos. Deixou recado metonímico aos frentistas da pandemia, além de ter deixado a bancada do Roda Viva estupefacta, boquiaberta.

João Agripino tentou se afastar do terror que abraçou pra sua candidatura em 18, naquilo que sua pré-candidatura, hoje, já ensaia para se destacar com adesivaços ou etiquetaços que emulam convencimentos via pão com mortadela ceratti. Parte de seu entorno, mbl e quetais, insiste num “mito é o kralho, fora bolsonaro”, cujo ruído final é uma elegia saudosista ao próprio. Tão infantil o proselitismo, que “oferece” migalhas ao horror petista, com mortadela fina. Cada pé numa canoa… Até o momento de apertar 17…

Bolsodória não pode ser descartado enquanto competidor perigoso e de práticas rasteiras. Quando diagnostica o antipresidente como psicopata, não se distancia da “doença”. Quem o conhece de perto sabe de suas práticas sibilinas e até promíscuas no trato com pretensos amigos que não esmorece em trair. Enquanto jogo de poder, até palatável. Mas seu procedimento numa zona eleitoral em que votava ele e Jô Soares, há 22 anos, deixou claro quem é o político que ataca por trás, numa aproximação criminosa daquele que apunhala pelas costas sem permitir reação ou defesa à vítima (motivo torpe como modus operandi no crime qualificado).

Até hoje, Jô Soares o vê como um “mau caráter”, a mesma característica de um psicopata — aqui um fino sociopata e condutopata. Jô, ao descer do carro e ir em direção à zona eleitoral, foi abordado festivamente pelo moleque que o abraça numa intimidade nunca vista ou existida e prega-lhe um adesivo “vote collor” nas costas do humorista. Jô caminhou feito um palhaço até o local de votação, quando foi advertido por uma pessoa, sabedora que Jô havia se comprometido com Covas. Esse é o perfil bolsodória: achaque!

Há questão de uns meses controlou a vacinação de Jô. Sabedor de seu dia para a segunda dose, ficou de plantão no local até a chegada do humorista e foi ao carro deste cumprimentá-lo. Recebido friamente, segurou nas mãos de Jô, insistindo num aceno. Não o recebeu, e, perplexo, juntou as suas num ar de contrição e devoção. Esse é o caráter de um psicopata. Maluf fazia melhor…

Esse, também, é o moleque que já foi prefeito, usou o cargo e deu seu salto carpado para o governo. Agora, ungido pelo presidente de honra do PSDB, que o acha o homem do futuro, rachará o partido e tentará adesivar novos incautos e fazê-los trouxas. Bolsodória tem características de um serial killer. É tão perigoso ou mais que seu terror abraçado em 18, do qual incorporou o nome à sua campanha.

Ao fim e ao cabo, Roda Viva deixou um registro que servirá tanto ao mundo da politica, que verdadeiramente se discrimine de engodos, como aos eleitores da faixa das 22 e 23 horas que tenham lucidez e refrigério necessários para perceber quem é quem nesse cenário tão castigado. Aos aderentes de perfil reacionário e/ou à serviço do partido militar, dividirão seus votos entre essas figuras canhestras e um bem enorme farão se conseguirem explodir essa direita irresponsável que se mostrou podre. Nem a Coronavac nem o protagonismo conseguido pelo governo paulista encobrirão o perfil bolsodorista entranhado e sob contração.

Em todas as oportunidades, o governador tentou se distanciar de seu espelho que incorporou ao nome. Bolsodória deu mostras de que aperfeiçoou o método da dissuasão por um figurino contido. Como um boneco manteve-se impassível cruzando a perna direita sobre a outra e assim permaneceu como uma madona em todos os blocos do programa. Parecia submetido à Parkinson, funereamente céreo. Chamou-me a atenção o colarinho quase no queixo e orelhas, destacando a inexistência do pescoço. Como manequim refém de um personal stylist, soube responder afrontando. Mas não perdeu a aura autoritária que muitos de seu partido ensaiaram e não tiveram sucesso.

Traíra, na concepção paulistana, mandatário burlesco e pernóstico, olhou de cima os mortais jornalistas que, embora em bancada superior, n’alguns momentos ficaram submetidos. Jogo jogado, cartas, algumas marcadas, vale a pena (novamente) assistir como se forja a caracteropatia no mundo político.

Ahhh… Sim! O pescoço. Lembrou-me Vargas, mas o acento era Castelo… Péssima sensação… Lamento.

 

Virgilio Almansur é médico, advogado e escritor.

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