Sonia Castro Lopes
A CPI da Pandemia está dando pano pra mangas. Há quem aposte que pode dar em impeachment, há quem diga que acaba em pizza. O que importa é que Bolsonaro está com medo, sente-se acuado e ameaça todo mundo, entre os quais o ministro do STF Luis Roberto Barroso, que encaminhou o pedido de CPI ao Senado e um dos autores do documento, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), em quem prometeu “dar porradas.”
São bombásticos os fatos revelados com a divulgação do conteúdo do telefonema trocado entre o presidente e o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) no último sábado (10). A possibilidade de se ampliar a CPI para que atinja também governadores e prefeitos é a tônica da conversa. Mas ele vai além, sugerindo que se colocasse em pauta no Senado o impeachment dos ministros do Supremo Tribunal Federal. A conversa vazou e, ao que tudo indica, com o beneplácito do presidente.
No telefonema, Bolsonaro insistia sobre a ampliação da CPI argumentando que “se não mudar, a CPI vai ouvir simplesmente ouvir o Pazuello, vai ouvir gente nossa, para fazer um relatório sacana.” O senador garantia ao presidente ser favorável à ampliação da CPI. E acabou publicando o áudio para ficar bem com seus eleitores, já que a maioria deles é bolsonarista, mas o criticavam por ter apoiado a CPI da #Covid. Aparentemente, conseguiu convencer o presidente de suas ‘boas intenções’, ouvindo dele que “era preciso fazer do limão uma limonada.”
A única limonada que serviria ao país seria o impeachment, como já expressou Guilherme Boulos em nota hoje (13) em seu twitter. Diante de um fato que configura claramente um crime de responsabilidade, por que não deflagrar o processo de impeachment do presidente? Os dois interlocutores planejaram a intervenção no poder legislativo e judiciário e ainda acharam razoável dar publicidade à conversa. Isso é nitroglicerina pura!
Para livrar a cara do pai, o filho 01 – Flávio Bolsonaro – decidiu que fará uma representação contra Kajuru na Comissão de Ética do Senado. Enquanto isso na Câmara, seu presidente, deputado Arthur Lira (PP-AL) parece seguir os passos de seu antecessor. Apesar de ter ameaçado o governo com um “remédio amargo” para pressioná-lo a realizar as mudanças ministeriais e satisfazer o apetite do Centrão, não parece agora disposto a responder aos 90 pedidos de impeachment que se acumulam sobre sua mesa.
Senadores governistas já começaram a se organizar para colher assinaturas e solicitar uma CPI ampliada, pois em sua opinião não seria justo apurar as ações/omissões apenas na esfera federal, uma vez que as responsabilidades entre as esferas administrativas devem ser compartilhadas. Deslocando o foco da crise para os entes federados, a estratégia dos governistas é tumultuar, atrasar e até inviabilizar o andamento do processo, tirando o presidente do olho do furacão.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que tentou postergar ao máximo o recebimento da CPI, afirmou que vai consultar a Mesa Diretora para confirmar se a investigação dos governadores na gestão da pandemia seria atribuição do Senado ou das respectivas assembléias legislativas. Será que Pacheco desconhece o próprio regimento interno da Casa? Pouco provável.
Esperemos o desenrolar dessa novela. Se a manobra dos parlamentares governistas funcionar, tudo pode acabar em pizza. Torço, sinceramente, para que a limonada de Bolsonaro azede de uma vez.